Pular para o conteúdo

PUBLICIDADE

✉️ Leitura norte-americana

Newsletter do Juremir # 193

✉️ Leitura norte-americana
Foto: Molly Riley/Casa Branca

OFERECIMENTO:
OFERECIMENTO

Dosimetria ou anistia?

Terminada a obra, começa a interpretação. No auge da teoria literária estruturalista, o nascimento da obra matava o autor, cuja biografia deixava de interessar, assim como suas intenções. Tudo mudou. Agora, a obra morre e o autor se multiplica nas redes sociais.

Obra aberta da política internacional. Os Estados Unidos levantaram o véu da lei Magnitsky que pesava sobre o ministro do STF Alexandre de Moraes. Lula comemorou e agradeceu a Donald Trump. Moraes agradeceu a Lula pelos seus esforços para acabar com tal aberração.

A esquerda festeja. A direita chora. Eduardo Bolsonaro afirmou que o “Brasil perdeu uma janela de oportunidades”. Americanos, porém, veem a lei da dosimetria, que apaga parte das penas dos golpistas, como aquilo que ela não deixa de ser com apelido técnico: anistia.

Entendendo que o objetivo, aliviar Jair Bolsonaro e seus generais, está sendo alcançado, resolveram diminuir a pressão.

Nessa estratégia, melhor tirar o pé agora do que após a aprovação definitiva dessa passada de borracha colossal na história recente. Ia ficar muito na cara a relação de causa e efeito entre aprovação da generosa dosimetria e a suspensão da lei Magnitsky.

Por enquanto, dá para dizer que ainda falta o Senado aprovar, Lula pode vetar alguma parte, essas coisas que diz todo político quando quer ganhar tempo sem mentir muito. Corre nas redes sociais a narrativa de que a dosimetria resultou de um acordão com o STF, com tudo, conforme a fórmula Jucá, partidos e mediação de Michel Temer.

Sempre que algo nebuloso acontece o mediador é Temer. Outro dia, voltando da França, eu o vi sentadinho na classe executiva esperando a massa descer para só depois usar o corredor como uma passarela. Parecia absorto em pensamentos tenebrosos e distantes. De longe, no aeroporto, a sua mão direita gesticulava como nos tempos em que puxava o tapete de Dilma Rousseff e implantava a sua ponte para o passado.

Tentativa de golpe de Estado no Brasil, na visão de muito gente, é crime político, visto como algo singular, sem roubo. Passível, portanto de perdão para “pacificar o país”. Essa conversa.

A maior punição para Jair Bolsonaro, conforme entendimento de quem o conhece de perto, é não poder concorrer a cargo eletivo.

Eis o Rubicão. Esse divisor de águas não pode ser ultrapassado. O resto seria conversa de boteco antes ou depois do jogo de futebol.

Se tem dosimetria, tem de haver também simetria. Jair Bolsonaro precisaria amargar, no mínimo, 576 dias de cadeia. Pena por pena.

Como tudo é versão, outro nome do termo narrativa, o mais usado na hora do chute, outra especulação garante que os Estados Unidos aproveitaram a lei da dosimetria para sair do beco em que haviam se submetido com a aplicação da Magnitsky a Alexandre de Moraes.

Sabe-se que política é a arte do blefe. Donald Trump blefa tantas vezes por dia quanto respira. Há quem blefe tão bem a ponto de acreditar no próprio blefe, apresentando-o como verdade absoluta em delações premiadas que oferecem a cabeça de alguém como troféu.

O jogo está quase jogado. Só falta o VAR se pronunciar.