Um dos espaços mais marcantes da cena cultural porto-alegrense, o Porto de Elis é tema de um documentário que reúne depoimentos de artistas e frequentadores da casa de shows que agitou Porto Alegre, de 1984 a 1994, no bairro Petrópolis. Dirigido por Flavia Gazola, Porto de Elis – Uma Viagem à Diversidade da Arte resgata a trajetória do bar como ambiente de inovação na música e nas artes cênicas da cidade.
O filme chama atenção pelo vasto arquivo de imagens gravadas em VHS pela diretora, que trabalhou na casa noturna na virada da década de 1980 para os anos 1990. “Eu era fotógrafa. Vendi todos os meus equipamentos e ainda tive que botar um dinheiro para comprar uma VHS Compact. Comecei a gravar tudo”, recorda Gazola.

Os registros incluem o primeiro show de Fernanda Abreu em Porto Alegre e imagens de dezenas de artistas que subiram ao palco do Porto de Elis, como Cascavelletes, DeFalla, Edgar Scandurra, Lory F., Nei Lisboa e Replicantes, entre outros tantos. A produção costura os arquivos com depoimentos atuais de nomes como André Abujamra, Edu K, Grace Gianoukas, Katia Suman, Laura Finocchiaro e Marcos Breda. Destaque também para a participação de Valéria Barcellos.
“Tinha uma disposição dos artistas e do público para a invenção”, afirma Adriana Calcanhotto, uma das entrevistadas, que iniciou sua trajetória musical no Porto de Elis. Roteirista do longa, Renato Del Campão conta que a casa de espetáculos, com o passar dos anos, “começou a ser muito procurada pelas diversas correntes artísticas da época, que tinham fome de espaços que abrangessem espetáculos de grande qualidade, mas para plateias mais intimistas”.
O filme também aborda o momento histórico do fim da ditadura militar e a disseminação do HIV. “Quando comecei a digitalizar as imagens, notei que uns 40% das pessoas (que aparecem nos registros) tinham morrido. Nos vimos na obrigação de abordar assuntos como drogas e AIDS”, conta Gazola.
Outros estabelecimentos que integravam a cena cultural da época também ganham evidência no documentário, como o salão de beleza Scalp e o Bar Ocidente – um dos polos da peregrinação boêmia que subia e descia as avenidas Protásio Alves e Osvaldo Aranha, do Oci para o Porto de Elis e vice-versa.
“Os locais mais antenados com o que estava acontecendo lá fora eram o Ocidente e o Porto de Elis. Costumo dizer que aquilo ali era a internet dos anos 80”, brinca o músico Claudio Calcanhotto, um dos idealizadores, ao lado de Egisto Dal Santo, do projeto Segunda Sem Lei, que a cada semana apresentava um estilo musical diferente no Porto de Elis, do reggae ao trash metal.
Viabilizado com recursos da Lei Paulo Gustavo, por meio de edital da prefeitura de Caxias do Sul – cidade que teve uma filial do Porto de Elis, onde foi realizado um dos primeiros shows de Cássia Eller no estado –, o documentário também mostra a presença das mulheres da cena local no palco da casa de shows, com artistas como Lory F. e Muni.
O Porto de Elis também acolheu a primeira parceria entre os atores Renato Del Campão e Zé Adão Barbosa, no besteirol Carrie, a Histérica, e apresentações do grupo de dança Baletto. Foi lá também que a fotógrafa Fernanda Chemale fez sua primeira exposição com imagens da cena rock porto-alegrense.
“Não sei como consegui terminar a faculdade de tanta festa que a gente fazia”, diverte-se a diretora do filme, que também é responsável pela edição e finalização do documentário.
Assista a “Porto de Elis – Uma Viagem à Diversidade da Arte”: