Um dos maiores astros do rock de todos os tempos, Bruce Springsteen é conhecido por seus shows eletrizantes e energéticos, que nunca duram menos do que três horas. Mas nem sempre a trajetória do músico foi apenas celebração e vitalidade. O filme Springsteen: Salve-me do Desconhecido (2025) mostra um período depressivo do artista estadunidense no começo dos anos 1980, quando decidiu parar sua ascendente carreira de sucesso para gravar um álbum acústico e sombrio.
O longa escrito e dirigido por Scott Cooper é protagonizado por Jeremy Allen White, escolhido para o papel pelo próprio biografado. Ganhador de três Globos de Ouro e dois Emmy como protagonista da série O Urso, Allen White encarna o cantor e compositor em um dos momentos mais difíceis de sua vida: logo após a vitoriosa turnê de lançamento do antológico álbum duplo The River (1980), Bruce Springsteen foi tragado por fantasmas do passado e do presente, fazendo uma pausa em sua trajetória exitosa às vésperas da produção de Born in the USA ⎯ disco lançada finalmente em 1984 e que viraria um estrondoso sucesso planetário.

Com o apoio de seu leal produtor e amigo Jon Landau ⎯ interpretado pelo ator Jeremy Strong, da série Succession ⎯, Springsteen tranca-se em sua casa para compor um punhado de canções folk introspectivas, registradas por ele apenas com voz, violão e gaita de boca em um rústico gravador de quatro faixas. Inspirado por traumáticas lembranças familiares e filmes como Terra de Ninguém (1973), de Terrence Malick, o repertório resultado no rústico e contundente Nebraska (1982) ⎯ que, contra todas as expectativas de mercado, tornou-se um dos álbuns do roqueiro mais bem recebidos comercialmente.
A narrativa de Springsteen: Salve-me do Desconhecido alterna sequências que mostram a concepção e a gravação de Nebraska com flashbacks do protagonista que jogam luz sobre as profundas motivações por trás de sua busca por isolamento e recolhimento, como um relacionamento amoroso complicado no começo de sua carreira e o relacionamento turbulento com o pai alcoólatra e violento ⎯ vivido pelo ótimo ator inglês Stephen Graham, de filmes como O Chef (2023) e da minissérie Adolescência (2025).

Em Born to Run, autobiografia lançada no Brasil em 2016, Springsteen escreve com surpreendente serenidade sobre o pai, cuja depressão que o levou ao alcoolismo parece ser um problema que se manifesta aleatoriamente em alguns familiares – inclusive nele mesmo.
No livro batizado com o nome de um de seus hinos – e também do terceiro disco do ídolo, sucesso comercial que o lançou ao estrelato em 1975 –, esse operário do rock autodefine-se com modéstia e alguma ironia: "Para começar, não tenho lá grande voz. Tenho a força, a capacidade de alcance e a resistência de um típico cantor de bar, mas não tenho uma grande beleza com relação a timbre, ou sequer categoria. Cinco atuações por noite? Sem problema. Três horas e meia de atuação? É possível. Necessidade de aquecimento? Quase nenhuma. A minha voz cumpre as devidas funções. Mas é um instrumento de um trabalhador a prazo e, por si só, nunca me levaria a voar alto (...) Para conseguir vender o que vocês compram, tenho de escrever, tocar, editar, dar um grande espetáculo e, sim, cantar o melhor que posso. Sou uma soma de todas as partes".

Springsteen: Salve-me do Desconhecido: * * * * *
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