"O Castigo" expõe as feridas de um casal em crise

Coprodução chileno-argentina, O Castigo (2022) é o mais recente filme de Matías Bize, cineasta vencedor do Prêmio Goya de Melhor Filme Hispano-Americano por A Vida dos Peixes (2010). Filmado em um único longo plano-sequência, o drama psicológico consolida a filmografia do diretor chileno em torno de histórias íntimas, intensas e emocionalmente extremas.

A narrativa de O Castigo se desenrola em tempo real, ao longo de aproximadamente 85 minutos, acompanhando de perto a crise de um casal após uma decisão impulsiva que foge ao controle de ambos. O longa começa com Ana (Antonia Zegers) dirigindo séria e irritada, enquanto Mateo (Néstor Cantillana), seu marido, insiste para que ela dê a volta e retorne ao local na floresta onde o casal deixou o filho de sete anos como castigo por mau comportamento.

Apenas dois minutos se passaram, mas, ao voltarem, o menino não está mais lá. A partir dessa situação limite, o filme mergulha em temas como culpa, ambivalência da maternidade, frustração, ressentimento e a fragilidade dos laços afetivos ⎯ transformando um “castigo” aparentemente corriqueiro em um acontecimento sem volta na vida dos personagens.

Não por acaso, Lucas é abandonado pelos pais no meio de uma floresta, cenário arquetípico associado ao maravilhoso, primitivo e misterioso onde se passam grande parte dos mais belos e assustadores contos infantis como João e Maria.

Protagonizado por uma dupla de aclamados intérpretes chilenos, O Castigo destaca em especial a excelente atuação de Antonia Zegers, premiada como melhor atriz pelo em festivais como Tallinn Black Nights, Beijing e Lima. No princípio calma e mesmo fria, sua personagem gradativamente deixar aflorar uma convulsão emocional interna que inclui frustrações, dúvidas e ressentimentos.

"O suspense da narrativa se baseia em saber se eles encontrarão o menino vivo antes da chegada da noite, mas o interesse também é despertado pela descoberta gradual da verdade mais oculta dos personagens. O público será cúmplice, em todos os momentos, de suas mentiras, daquilo que tentam esconder, e isso permitirá que participe de suas contradições, seus medos e suas fraquezas", resume o realizador Matías Bize.