Uma escritora luta contra o silenciamento em "Cyclone"

Depois de participar de certames como Festival do Rio e Mostra Internacional de São Paulo, Cyclone (2025) chega aos cinemas nesta quinta-feira (4/12). O filme dirigido por Flávia Castro narra a história de uma escritora talentosa e persistente que para não ser silenciada na São Paulo do início do século 20.

Na trama que começa em 1919, a atriz Luiza Mariani interpreta Daise, uma operária que divide seu tempo entre o trabalho em uma gráfica, onde garante o sustento, e a paixão pela dramaturgia. Quando ganha uma bolsa para estudar teatro em Paris, logo descobre que o maior obstáculo para realizar seus sonhos é ter nascido em um mundo onde as mulheres sequer são donas do próprio corpo.

O longa é inspirado na história de Maria de Lourdes Castro Pontes, figura apelidada como Miss Cyclone pelos modernistas e citada pelo escritor Oswald de Andrade no livro O Perfeito Cozinheiro das Almas Deste Mundo. Diante dos poucos registros sobre a personagem real, a roteirista Rita Pfiffer preenche em Cyclone as lacunas da sua trajetória e cria uma personagem original a partir de uma perspectiva contemporânea, feminina e feminista.

O filme é um projeto pessoal de Mariani, que interpretou a protagonista no teatro e há 20 anos trabalha para levá-lo ao cinema. A protagonista também assina a produção, ao lado de Joana Mariani e Eliane Ferreira, e colabora no roteiro de Piffer.

O elenco de Cyclone ainda conta com Eduardo Moscovis, Karine Teles, Luciana Paes, Magali Biff, Rogerio Brito e Ricardo Teodoro.

A porto-alegrense Flávia Castro passou a infância e parte da juventude no exterior acompanhando os pais, exilados políticos durante a ditadura. Essa ligação pessoal com o repressão do regime militar está no cerne de sua estreia no longa-metragem com o premiado Diário de uma Busca (2011). O exílio e os anos de chumbo também são tematizados em seu primeiro filme de ficção, Deslembro (2018), que teve première mundial na mostra Orizzonti do Festival de Veneza.