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Importunação sexual é crime: escritora gaúcha relata episódio em condomínio onde vive em São Paulo

Tudo É Gênero # 28

Importunação sexual é crime: escritora gaúcha relata episódio em condomínio onde vive em São Paulo
Fernanda Bastos foi assediada por um vizinho dentro do elevador | Foto: Gustavo Schossler

Para meninas e mulheres, é algo cotidiano. Uma encoxada no ônibus, uma passada de mão no corredor, um beijo roubado à força. Mas só em 2018 a importunação sexual virou crime no Brasil. Além de contato físico forçado, o texto prevê situações como masturbação em público e divulgação de cenas de estupro ou de sexo sem consentimento.

Algumas dessas situações eram tão comuns na minha adolescência, nos anos 1990, que eu sequer entendia a sua gravidade, apesar do incômodo. A lei veio tarde, mas, ao dar nome e o peso que esses ataques têm, abriu caminho para mulheres denunciarem seus agressores. 

Fernanda Bastos, jornalista e poeta gaúcha, sofreu importunação sexual no dia 6 de outubro. Ela publicou um depoimento no seu perfil do Instagram e mandou um relato à coluna. O caso ocorreu em São Paulo, dentro do elevador do condomínio onde mora com o marido, o escritor e editor Luiz Maurício Azevedo, e o filho deles. É mais um episódio que ilustra a inviabilidade da paz no dia a dia de uma mulher. Como escreveu Fernanda e como muitas de nós repetimos à exaustão: não há lugar seguro para uma mulher. 

Com imagens da câmera de segurança que mostram o agressor tocando suas próprias partes íntimas e forçando um contato com Fernanda, ela registrou boletim de ocorrência, que já virou inquérito policial. 

A seguir reproduzo o relato da escritora e reafirmo meu apoio e minha solidariedade, além da admiração pela coragem de levar adiante um caso como esse, que a gente só quer esquecer. Nas suas palavras, a difusão do episódio é importante “para que ele não mais se repita nem comigo nem com outras, não importa o poder de quem cometa o crime”.

“Hoje (13/10/2025) faz uma semana que eu tive de lidar com algo que é mais comum do que deveria. Um vizinho cometeu importunação sexual contra mim, no elevador do prédio em que vivo, em São Paulo. No meu caso não foi difícil conseguir o registro do terror por que passei: está claro nesse registro de vídeo, cedido pela administração do condomínio e que será devidamente anexado ao inquérito policial. 

O agressor pede diversas vezes para tocar no meu corpo, enquanto manipula o próprio órgão sexual por sobre a roupa. Embora o fato de o prédio ter câmeras não tenha impedido que o agressor agisse, estou convicta de que com a difusão do vídeo do acontecimento ao menos eu posso provar aquilo que muitas outras mulheres não podem: que foram importunadas sexualmente. 

A minha situação continua aterrorizante porque o agressor vive no mesmo prédio que eu. Eu me sinto em risco e possivelmente estou em risco, assim como meu marido e meu filho que vivem no mesmo prédio que o assediador também. Então decidi publicizar o que passei não só porque esse risco me torna vulnerável de novo. Estou falando sobre o que aconteceu porque o fato de ser mais comum do que deveria não torna isso aceitável: é grave. 

Como mãe, esposa, ativista feminista, jornalista, artista e mulher negra me posiciono hoje diante de você pedindo ajuda, porque não posso lutar sozinha. Não vou aceitar que meu corpo seja alvo desse tipo de conduta violenta e espero que, com a publicização dessas imagens e do meu caso, eu possa levar apoio para que outras mulheres rompam o silêncio e tenhamos ainda mais mecanismos de proteção para que não precisemos nos sentir alvos de agressores o tempo todo. 

Ninguém abusará de nossos corpos impunemente, seja o filho de quem for, tenha o histórico que tiver.”


As opiniões emitidas por colunistas não expressam necessariamente a posição editorial da Matinal.

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Marcela Donini

Marcela Donini

Gerente de Jornalismo na Matinal, mestra em Comunicação Social e mãe. Em 2022, recebeu a Comenda Guilhermino Cesar pela Liberdade de Expressão (MPC-RS). Contato: marcela@matinal.org

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