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Sobre Jards Arnett Macalé da Silva

Parêntese #303

Sobre Jards Arnett Macalé da Silva
Foto: Reprodução / @jardsmacale | @rejanezilles

Macalé (03/03/1943 - 17/11/2025) encerrou seus trabalhos de compositor essa semana, após uma cirurgia, da qual acordou com ânimo cantando “Meu nome é Gal”. Morreu com bom humor e, pelos registros que se encontram por aí, isso era uma constante, apesar da timidez autodenunciada, que segundo ele mesmo não deixou o merecido sucesso se aproximar. O que vou contar a seguir é mais história minha do que história do Macalé, mas não há nada mais Macalé do que essa história.

Jards Macalé povoou a minha adolescência com um grande silêncio e uma busca interminável pelos seus álbuns em sebos e lojas do ramo. O Jards dos anos 80 era exclusivo para aqueles que tinham comprado seus álbuns nos anos 70, para os que tinham muita sorte, ou aqueles que, como eu, iam no rótulo, ou na contracapa do vinil, buscar o autor. Não se achavam discos nem fitas, nada do cara. Na ausência de internet, eu não tinha ideia de que fisionomia ele tinha, de como seria sua voz, nada. Não havia uma nota a respeito, nem uma participação vocal em disco que fosse. Descobri ao acaso, numa revista Bizz, em 1987, que ele tocava violão no Transa (1971) do Caetano e que talvez tivesse sido fundamental na produção do álbum. O cara ficava cada vez maior na minha cabeça, mas seguia sem voz e sem imagem. Eu ouvia com insistência Bethânia cantando “Movimento dos barcos” (Macalé - Capinan), “Anjo exterminado”, Gal cantando “Mal secreto”, “Hotel das estrelas” e, claro, “Vapor Barato”, todas em parceria com Waly Salomão. Na ausência de mais notícias, fiz uma mix tape, ou melhor, gravei uma fita só de Macalé, incluindo até a versão de “Gotham City”, parceria com Capinam, gravada em 1984 pelo Camisa de Vênus.