A Avenida Nilo Peçanha em Porto Alegre está mais iluminada. Agora uma passarela brilha como se estivesse na Broadway.
Ligando o campus da Unisinos ao Colégio Anchieta, a passarela ganhou muitas lâmpadas e painéis de LED reluzentes, coloridos, animados. O tipo de brilho que não pede licença para entrar na retina.
Do lado de cá, universitários tentando entender teorias, fórmulas e conceitos. Do lado de lá, adolescentes do Anchieta tentando vencer o ensino médio. Ambos, já faz um tempo, compartilham agora a mesma janela luminosa. Uma espécie de TV panorâmica em looping, passando anúncios e mais anúncios.
A pergunta é simples: por que escola e universidade, que vivem dizendo para seus alunos reduzirem o tempo de tela, topariam instalar uma gigante ao ar livre, em 24 horas de sessão contínua? Quando duas instituições de ensino permitem que seus estudantes passem o dia expostos a estímulos incessantes, isso, inclusive, não se aproxima de publicidade subliminar?
Há anos, pais, professores e psicólogos alertam para o impacto do excesso de luz, de telas, de notificações – de estar ligado o tempo todo em estímulos externos.
Ela, a passarela, é quase uma ironia pedagógica.
Também existe a questão do cansaço. Estudantes vivem uma rotina de concentração, provas, trabalhos, vida corrida. A última coisa que precisam é um holofote girando a poucos metros da biblioteca.
A dúvida maior, porém, não é sobre o LED. É sobre o conceito. Quando aceitaram a obra, será que Unisinos e Anchieta pensaram no ambiente de estudo? Pensaram nos estudantes? Se educação é, no fundo, uma tentativa de organizar o pensamento, por que instalar algo que desorganiza?
Confesso que esta reflexão é de uma pessoa que estuda na Unisinos, faço Psicologia lá – é à noite! Costumo ver essa luz entrando pela janela, como se eu tivesse deixado uma gigante televisão ligada. E se menciono o Anchieta, é por uma razão simples. Meu filho estudou lá. Tenho simpatia pela escola e respeito a formação que ela oferece.
Quando a gente conhece alunos e professores dos dois lados da avenida, a pergunta sobre quem está sendo iluminado ou quem está sendo perturbado deixa de ser teórica. Esta passarela ilumina ou ofusca?
A resposta, como o LED, continua acesa. E um tanto que difícil de ignorar.