Confira todos os textos da edição #305
- A volta dos que não foram, por Carlos André Moreira
- Quanto pesa uma pena?, por Alyne Rehm
- Carne vermelha, por Helena Terra
- Diário da guerra do sono: Capítulo 5 – Tragédia, por Cristiano Fretta
- Canções de 1978, por Luís Augusto Fischer
- Serranos na várzea – Parte 3, por Geraldo Hasse
- As cinzas insurgentes de Roberto Gigante, por Jandiro Koch
- Santa Catarina, a santa mesmo, por Paulo Damin
- Apadrinhe a Escola Casa de Teatro, por Juremir Machado da Silva
- Porto Alegre, 1893-95: Guerra civil, novas fábricas e operariado, por Arnoldo Doberstein
Diz que a santa protetora dos leitores é a Catarina de Alexandria. Uma leitora, uma tradutora, a Catarina, naqueles anos de imperialismo romano na África, em Alexandria, onde tinha uma famosa biblioteca.
Daí os romanos, aquela coisa, sob os auspícios de Marte, prenderam ela, uma cristã subversiva, e botaram na roda-viva pra debater com os especialistas do momento. Ninguém sabe as palavras exatas, mas diz que ela convenceu os véio tudo a se converter pra modernidade, na época, que era um deus só, em vez de mil.
Daí torturaram ela, que tinha o hábito arriscado, até hoje, da parresia: a coragem de falar o que tu pensa. Prenderam a Catarina em outra roda, um troço horrendo de madeira com pontas afiadas de ferro, umas facas. Só que a roda quebrou, rachou no meio, essa roda-morta, esse círculo fechado do status quo. O único jeito, pros milicos romanos, foi cortar a cabeça da Catarina. A cabeça, o único jeito de fazê-la parar de pensar.
E os anjos a levaram pro Sinai, onde ela poderia descansar das misérias terrenas e ficar lendo, guiando os leitores, todo mundo que não terceiriza a própria inteligência usando robôs, todo mundo que se nega a trocar cérebro por cérbero.
Salve Catarina!