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As cinzas insurgentes de Roberto Gigante

#Parêntese #305

As cinzas insurgentes de Roberto Gigante
Roberto Gigante. Pioneiro, 20/05/1960.

Alguns dos gays ditos excêntricos, no Rio Grande do Sul, foram agitadores culturais com grande bagagem intelectual e/ou de vivências. Embora muito representativos em sua forma orgânica, correm o risco do esquecimento, porque interpretados como bobos da corte ou como pessoas despolitizadas, algo que deveria ser, no mínimo, problematizado. Assim acontece com Tatata Pimentel, assim acontece com Roberto Gigante, entre outros tantos associados às “amenidades”. Enquanto o primeiro faleceu repentinamente, o segundo se apagou aos poucos, terminando os dias em uma clínica, em Pelotas, onde ainda vivem um irmão e a cunhada. 

Cheguei a conversar com Gilberto Gigante e com a esposa, rapidamente e ao telefone, do que fiquei com a impressão de que não queriam se estender na conversa – e de que não mantiveram uma relação mais próxima, do que não julgo coisa alguma, porque cada família sabe das dores e das delícias de conviver com os seus. O diálogo não se mostrou promissor, ainda mais porque, considerando o que me disseram, não há acervo qualquer guardado, o que significa que fotografias, cartas e assemelhados devem ter sido descartados. Sabe-se que, quando ainda residia em Porto Alegre, foi se desfazendo de sua coleção de artes e bens pessoais – mas deve ter conservado o que era mais pessoal.

Multiartista, arroz de festa, colunista de trivialidades, nenhuma definição dessas é suficiente para dar conta de explicar alguém tão diferente, que conseguiu espaço em vários ambientes conservadores, em múltiplos meios de comunicação. Para tentar entender se há alguma razão com os que acreditam que tenha sido um bobo da corte, segue um desfilar de momentos-chave em sua biografia.