Confira todos os textos da edição #303
- Sobre Jards Arnett Macalé da Silva, por Luciano Mello
- Raduan Nassar: um olho na literatura, outro na vida, por Helena Terra
- Perguntas para “O Agente Secreto”, por Álvaro Magalhães
- Serranos na várzea, por Geraldo Hasse
- Cidades são redes, por Juremir Machado da Silva
- Poesia de alta voltagem, por Marcia Benetti
- Uma alegria sem adeus, Mariana, por Tiago Maria
- Ninfas na lomba do cemitério, por Luís Augusto Fischer
- Gota D’água, Os Saltimbancos e O Cio da Terra, por Arthur de Faria
- Porto Alegre, 1891-95: os primeiros anos da Gazetinha, republicana, maçônica, operária e quase sensacionalista, por Arnoldo Doberstein
- Diário da guerra do sono: Capítulo III – O asfalto, por Cristiano Fretta
No verão de 1926, uma intensa correspondência uniu três grandes poetas: o austríaco Rainer Maria Rilke, que morava na Suíça, a russa Marina Tsvetáieva, exilada na França, e Boris Pasternak, que permanecera na Rússia. Marina e Boris já se escreviam e idolatravam o austríaco, tido por eles como a encarnação da verdadeira poesia. Rilke morreu em dezembro daquele ano, e Boris e Marina continuaram a trocar cartas por mais uma década.
A conexão íntima e a verve desses dois poetas fascinaram o escritor e artista plástico Alberto Martins, que ficou dez anos escrevendo poemas a partir das vozes deles. Uma seleção rigorosa dessa produção resultou no livro Boris e Marina, lançado em setembro de 2025 pela Companhia das Letras, com 75 poemas impressionantes.
Logo no início, uma nota alerta o leitor de que não deve esperar “nem versos nem verdades que correspondam às figuras reais de Tsvetáieva, Rilke e Pasternak”, e isso é importante. Martins não emula os poetas e não reproduz seus estilos. Em vez disso, cria duas dicções, uma para Marina e uma para Boris – Rilke só aparece no final do livro, e de modo surpreendente. Essas duas vozes são tão distintas, e com personalidades tão marcadas, que rapidamente identificamos quem está falando e acreditamos em seus tormentos e desejos.