Confira todos os textos da edição #305
- A volta dos que não foram, por Carlos André Moreira
- Quanto pesa uma pena?, por Alyne Rehm
- Carne vermelha, por Helena Terra
- Diário da guerra do sono: Capítulo 5 – Tragédia, por Cristiano Fretta
- Canções de 1978, por Luís Augusto Fischer
- Serranos na várzea – Parte 3, por Geraldo Hasse
- As cinzas insurgentes de Roberto Gigante, por Jandiro Koch
- Santa Catarina, a santa mesmo, por Paulo Damin
- Apadrinhe a Escola Casa de Teatro, por Juremir Machado da Silva
- Porto Alegre, 1893-95: Guerra civil, novas fábricas e operariado, por Arnoldo Doberstein
Há muitas maneiras de se ler um livro. Cada pessoa tem as suas. Seria muito redutor, para não dizer ingênuo, pensarmos que lemos sempre da mesma forma, ainda que tenhamos alguns métodos. Se tem algo que meus muitos anos como leitora me ensinaram é que não existe nada no território da subjetividade e da fruição artística que não seja móvel e, por vezes, movediço. Portanto, sujeito a contradições, equívocos e estranhezas. A literatura em si se alimenta dessa movimentação interna e externa. Sua plasticidade decorre dela, molda-se com ela e conosco. Logo, é natural que cada livro seja único e múltiplo, como também é natural que alguns livros e leitores sejam mais múltiplos que outros.
Essa possibilidade de desdobramentos quem dá é o talento de quem escreve. Repara que não falo de racionalidade e de técnica. No caso do romance Açougueira, ele vem do dom da escritora Marina Monteiro (uma estreante na narrativa longa), de redimensionar o peso e o significado das palavras. Com uma escrita hipnótica, Monteiro adentra o mundo dos romances com a criatividade e o mistério das escritoras e dos escritores experientes. João Cabral de Melo Neto, por exemplo. Há algo dele entre as suas linhas. Uma faísca. Não mais que isso. Mas uma faísca convergente com o desenvolvimento da linguagem de suas personagens, em especial, de sua protagonista.