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Poesia de alta voltagem

Parêntese #303

Poesia de alta voltagem

No verão de 1926, uma intensa correspondência uniu três grandes poetas: o austríaco Rainer Maria Rilke, que morava na Suíça, a russa Marina Tsvetáieva, exilada na França, e Boris Pasternak, que permanecera na Rússia. Marina e Boris já se escreviam e idolatravam o austríaco, tido por eles como a encarnação da verdadeira poesia. Rilke morreu em dezembro daquele ano, e Boris e Marina continuaram a trocar cartas por mais uma década.

A conexão íntima e a verve desses dois poetas fascinaram o escritor e artista plástico Alberto Martins, que ficou dez anos escrevendo poemas a partir das vozes deles. Uma seleção rigorosa dessa produção resultou no livro Boris e Marina, lançado em setembro de 2025 pela Companhia das Letras, com 75 poemas impressionantes.

Logo no início, uma nota alerta o leitor de que não deve esperar “nem versos nem verdades que correspondam às figuras reais de Tsvetáieva, Rilke e Pasternak”, e isso é importante. Martins não emula os poetas e não reproduz seus estilos. Em vez disso, cria duas dicções, uma para Marina e uma para Boris – Rilke só aparece no final do livro, e de modo surpreendente. Essas duas vozes são tão distintas, e com personalidades tão marcadas, que rapidamente identificamos quem está falando e acreditamos em seus tormentos e desejos.