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✉️ Seleção campeã

Edição #36

✉️ Seleção campeã
Seleção de futsal é campeã mundial | Foto: Fabio Souza/CBF

Esperança em verde e amarelo

Domingo de manhã, acordo e ouço gritos de “vamo, Brasil”. Estranhei porque, havia poucos dias, tinham encerrado o sorteio dos grupos da Copa do Mundo de Futebol Masculino e não tinha jogo da Seleção previsto.

Mais gritos e palmas. O entusiasmo do meu filho me intrigava. 

Levantei da cama e, ao chegar na sala, vi Santiago com a camisa da Seleção e, na TV, a final da Copa do Mundo Feminina de Futsal da FIFA.

“A Seleção”, mesmo na minha cabeça desconstruída de ativista feminista, ainda é a seleção masculina de futebol, vejam só. Por isso me emocionou tanto ver meu filho, de oito anos, empolgado com uma equipe formada por mulheres. Algo impensável não só na minha infância, mas poucos anos atrás.

Na manhã daquele domingo, ele me contou tudo sobre o torneio, o primeiro mundial feminino de futsal, que acabamos vencendo, entrando para a história do esporte.

A paixão do meu filho, que nasceu no ano do tri do Grêmio da Libertadores, me reconectou com o futebol. Confesso que até a secadora que estava morta em mim desde 2006 ressuscitou com a probabilidade do Inter cair neste ano. Porque futebol, para mim, é pra ser sobre diversão, com celebração e corneta (quase) na mesma medida.

Mas não era nada divertido frequentar as arquibancadas do Olímpico e ouvir assobios e “piadinhas” aqui e ali, sempre com um abrigo amarrado na cintura, para tentar esconder o máximo de corpo que eu conseguisse, no frio ou no calor.

O futebol é, talvez, um dos meios mais machistas da nossa sociedade – afinal, frases como “futebol não é para meninas” são ditas com a maior naturalidade ainda em 2025. Mas justamente por ainda ser um universo dominado por homens e que atrai milhões de meninos no Brasil, deve estar na nossa pauta se quisermos oferecer exemplos positivos de masculinidade e transformar a realidade que oprime mulheres e meninas não só no esporte.

O que me dá uma certa esperança é ver uma geração para quem não é estranho ver mulheres em campo, torcer por elas ou mesmo acompanhá-las comentando e narrando partidas, um avanço importantíssimo. Mas lutar para que o futebol seja uma paixão saudável para todos não depende só da boa intenção de pais e mães. É preciso que toda essa indústria bilionária e outros atores sociais se envolvam – clubes, estado, justiça, TVs, patrocinadores, empresários, torcidas e jogadores e jogadoras.

É assim que avançamos. Dos 20 clubes que disputaram a Série A do Brasileirão em 2017, por exemplo, só sete tinham times femininos. Naquele ano, CBF, Conmebol e Fifa avisaram que, a partir de 2019, clube sem futebol feminino estaria fora da Libertadores. Isso impulsionou a categoria.

Ainda tem desigualdade salarial e de investimento, assédio e machismo nas arquibancadas e nas equipes? Tem. Mas ocupar espaços é um primeiro passo em busca de equidade. E ao ocupá-los ensinamos à geração do meu filho (que já é melhor que a minha, que, por sua vez, é melhor que a de Abel Braga e Ramón Díaz) que futebol é, sim, para meninas.

As opiniões emitidas por colunistas não expressam necessariamente a posição editorial da Matinal.

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