Afro-Sul celebra 50 anos com estreia de “Raiz Afro-Gaúcha”

A Companhia Afro-Sul de Música e Dança leva seu novo espetáculo, Raiz Afro-Gaúcha, ao palco do Auditório Araújo Vianna, no dia 23 de novembro, às 19h. A montagem, em sessão gratuita, encerra a programação da Trilha Cultural, que celebra o mês da Consciência Negra e os 50 anos de trajetória do Afro-Sul, expoente da cultura afro-gaúcha – confira a programação ao final da matéria.

Por meio da dança e da música, Raiz Afro-Gaúcha propõe reflexões e um encontro de saberes, no diálogo entre passado e futuro, inspirado na filosofia Sankofa. A montagem apresenta a trajetória de uma criança desde o nascimento até a velhice, conectando histórias pessoais e coletivas. Com direção artística de Edjana Deodoro e Taila Souza, direção musical de Mestre Paulo Romeu e arranjos do maestro Marcos Farias, a peça foi inspirada nas criações da Mestra Iara Deodoro (1955 – 2024).

Bailarina, coreógrafa, assistente social e pós-graduada em educação popular, Iara fundou com Paulo Romeu o Afro-Sul, em 1975. A primeira apresentação artística do grupo questionava o racismo através da música e da dança. Percebendo o impacto do espetáculo, os integrantes do coletivo decidiram dar continuidade aos trabalhos. O olhar voltado para a juventude e a transformação social por meio da arte daria origem ao Instituto Sociocultural Afro-Sul Odomode – que significa jovem, em iorubá –, espaço de referência da cultura negra em Porto Alegre, localizado na avenida Ipiranga, no bairro Jardim Botânico.

Filha de Iara e Paulo, Edjana conta que a mãe chegou a participar da concepção de Raiz Afro-Gaúcha. “Ela tinha muitas ideias para o espetáculo, e quisemos manter todos os desejos dela, levá-los para o palco e homenageá-la”, conta a organizadora da Trilha Cultural. 

“Vejo a minha posição como uma grande felicidade, mas também como uma responsabilidade de honrar quem veio antes de mim e todo o trabalho feito por eles. Hoje, pego a direção de um grupo que já tem projeção e nome, em um momento histórico e social de um país em que o racismo já é crime e já se fala mais abertamente sobre o empoderamento de pessoas pretas”, afirma Edjana.

Referência da cultura afro-gaúcha, unindo expressão corporal e educação, o Afro-Sul já formou mais de 1.600 crianças e jovens, criou centenas de composições coreográficas e capacitou educadores com uma metodologia afrocentrada. Com mais de 750 apresentações e 400 eventos culturais no portfólio, preserva e difunde a cultura negra, mantendo vivo o legado de Iara Deodoro e inspirando novas gerações – relembre a matéria sobre a Biblioteca Digital Iara Deodoro.

“O Afro-Sul é um movimento sociocultural e artístico que reivindica, divulga e valoriza a cultura afro-gaúcha como uma especificidade do negro do Rio Grande do Sul. A gente sabe da riqueza da cultura afro-brasileira, mas em cada lugar do Brasil, a cultura afro tem o seu sotaque, e é muito pouco conhecido no Brasil a cultura que o negro produz no Sul. Esse é o nosso papel, de mostrar que existe negro no Rio Grande do Sul, que existe negro  produzindo cultura, e que a nossa cultura é muito bonita, muito rica e uma ferramenta de socialização e de resistência”, explica Edjana. 

“Espero que o espetáculo inspire crianças pretas a ter orgulho e participar cada vez mais da sua cultura”, completa a coreógrafa.

Trilha Cultural

A programação da Trilha Cultural começou na manhã desta quarta-feira (19/11) e se encerra no domingo (23/11) com uma série de atrações gratuitas, incluindo rodas de saberes ancestrais, a pintura de um mural celebrando a cultura afro-gaúcha, o Festival Tem Preta no Sul – com música, dança, oficinas de bonecos, pintura de rosto e atividades educativas – e o espetáculo Raiz Afro-Gaúcha.