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José Falero: "'Vera' me colocou de frente com demônios difíceis de lidar"

José Falero: "'Vera' me colocou de frente com demônios difíceis de lidar"
Imagem: Reprodução / Todavia

Os escritores José Falero e Jeferson Tenório conversam nesta quinta-feira, 13/11, na Praça da Alfândega, às 17h30, sobre os possíveis caminhos da literatura contemporânea, pensando a partir das margens. Mediada por Carolina Panta, a exploração integra a programação deste ano da Feira do Livro de Porto Alegre. Às 19h, o evento também sedia sessão de autógrafos com Falero, que no final de 2024 lançou o romance Vera, abordando a masculinidade tóxica. O editor da Parêntese Luís Augusto Fischer entrevistou o autor sobre o novo livro, confira abaixo o material, que integra uma série de conversas com escritores e escritoras presentes na 71ª edição da Feira.


Luís Augusto Fischer – Depois da consagração como um dos 25 mais importantes livros do Brasil nos primeiros 25 anos do século 21, com Os supridores, saiu teu romance Vera. Como estava a tua expectativa? E como vem sendo a leitura, segundo depoimentos?

José Falero – Às vésperas do lançamento do Vera, eu andava com medo. Medos, melhor dizendo. Dois. Um deles se confirmou. Eu tinha medo de que estar às voltas com esse assunto (masculinidades) me lançasse em crise existencial. Pois lançou. Me colocou de frente com alguns demônios difíceis de lidar. O outro medo tinha a ver com uma possível recepção negativa ao livro. Mais precisamente, eu tinha medo de que as passagens mais duras do livro fossem vistas como apologia às violências presentes ali. Esse medo surgiu da minha tentativa de não repetir certo equívoco que cometi em trabalhos anteriores, como em Os supridores: o de tentar conduzir as conclusões do leitor por meio de retórica. Em Vera, procurei expor os fatos de maneira mais fria, pra deixar que os leitores somem 2 mais 2 sozinhos. Isso, é claro, tem lá os seus riscos, especialmente em nossos tempos. Se eu não digo que o resultado é 4, haverá certamente quem me acuse de ter sugerido que o resultado é 5. Mas felizmente ninguém me botou na Cruz. Até agora.

Luís Augusto Fischer – Vera faz parte de um novo projeto, mais complexo que o de Os supridores, certo? Haverá outros romances em torno dos mesmos personagens? Alguma ideia que possa ser adiantada agora, um enredo, um protagonismo?

José Falero – Sim, um projeto mais complexo. Um passo maior do que a perna até, eu diria. Me arrependo até o último fio de cabelo por ter me proposto a construir isso. Três volumes ao todo, girando em torno das masculinidades, sendo Vera o primeiro e Luzia o segundo, a ser lançado em meados do ano que vem. Digo que me arrependo não porque o projeto como um todo não tenha me trazido satisfações até aqui: trouxe. Mas é muito mais desgastante do que eu tinha calculado. Não sei se as satisfações compensam. Na verdade, já entendi que não compensam. Quando eu terminar a trilogia das masculinidades, vou escrever um livro de autoajuda pra ver se ganho algum dinheiro. Sete segredos para resistir à vontade de enfiar as mãos na bunda e rasgar no mundo em que vivemos. Que tal? Soa bem, não soa? Enfim. Em Luzia, segundo volume do passo maior do que a perna, chego à adolescência do Vanderson, filho da Vera, ambos já apresentados no primeiro volume.

Luís Augusto Fischer – E como andam as tuas tão celebradas (justamente celebradas) crônicas e ensaios? Parou a produção?

José Falero – O que já foi feito tem ido bem. As crônicas do Mas em que mundo tu vive? viraram leitura obrigatória da UFRGS. O que não deixa de ser irônico, já que uma das crônicas, De volta ao campus, trata justamente do meu misto de trauma e recalque com os ares universitários. Escrevi também alguns ensaios que nunca foram reunidos em livro, mas dos quais me orgulho bastante. Um deles deve sair na piauí de novembro. Quanto à produção de crônicas e ensaios novos, não tenho tido muito tempo para isso. No momento, estou sobrecarregado com três projetos: Luzia, Os supridores e Fulgore. Luzia, como já disse, é o segundo volume do passo maior do que a perna; Os supridores é a adaptação do meu livro pro cinema, cujo roteiro estou escrevendo com o Jorge Furtado; e Fulgore é um projeto de software, mais precisamente um game engine, que estou desenvolvendo pro Lucas, um amigo querido que fiz nas noites de jogatina de sinuca no Eski Bar. Ele quer fazer um jogo de computador em Python (uma linguagem de programação), e estou desenvolvendo um motor orientado a objetos (um paradigma de programação) pra ele usar.

Luís Augusto Fischer – Tem rolado algum retorno do conto publicado na piauí de outubro?

José Falero – Uma ou duas pessoas leram a revista e me marcaram nas redes sociais, elogiando o texto. Nada mais que isso. Mas talvez eu tenha perdido algo, porque fiquei quase uma semana inteira sem acessar as redes sociais. Quando voltei, tinha uma centena de stories nos quais fui marcado, mas aos quais não tive acesso, porque já havia passado 24h desde a marcação. Não faço ideia do que eram. Pode ter sido alguém falando do texto na piauí, pode ter sido alguém celebrando o Vera como finalista do Minuano ou pode ter sido alguém que tirou uma foto de mim desmaiado bêbado em alguma esquina da Cidade Baixa.

Luís Augusto Fischer

Professor e editor da revista Parêntese.

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