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OSPA celebra 75 anos em concerto que exalta diversidade étnica e sonora do país

Grupo percussivo Martelo e Coro Sinfônico da OSPA participam das sessões comemorativas dos dias 22 e 23 de novembro

OSPA celebra 75 anos em concerto que exalta diversidade étnica e sonora do país
Foto: Vinicius Angeli

“Eu venho de uma cidade que tem uma orquestra sinfônica”, dizia Erico Verissimo, fazendo menção à Orquestra Sinfônica de Porto Alegre. O orgulho manifestado pelo escritor se renova entre os porto-alegrenses neste fim de semana, no concerto que celebra o aniversário de 75 anos da OSPA – em duas sessões, sábado (22/11) e domingo (23/11), às 17h.

“A OSPA é algo muito precioso. Graças a todas as forças positivas, segue fazendo esse trabalho de levar música de concerto à nossa população, não só em Porto Alegre, mas também em cidades do interior do estado. Apesar de todas as crises que aconteceram, a orquestra seguiu firme e mobilizada para levar grandes obras, do período barroco até os dias de hoje, em concertos semanais”, destaca o maestro Manfredo Schmiedt, citando como exemplos de crises recentes a pandemia de covid-19 e a enchente de 2024.

Foto: Daisson Flach

Outra dificuldade superada nos últimos anos diz respeito aos espaços para ensaios e apresentações da orquestra. “Por anos, houve uma peregrinação gigante entre Cais do Porto, palácio do governo, salão paroquial da Igreja São Pedro e Usina do Gasômetro, que nos acolheram de uma forma muito bacana, mas que não são os ideais para uma orquestra sinfônica. A estrutura da Casa da OSPA, que temos desde 2018, dignifica a orquestra”, afirma o maestro, destacando os espaços para ensaios e recitais, a sala de concertos com capacidade para 1.100 pessoas, os ambientes administrativas e a musicoteca do complexo cultural, localizado no Centro Administrativo Fernando Ferrari (CAFF).

Schmiedt ressalta ainda a possibilidade de usufruir o estacionamento gratuito do CAFF, a acessibilidade da sala de concertos e o preço dos ingressos, na comparação com outros espetáculos – neste fim de semana, os valores variam entre 10 e 50 reais.

O acesso aos concertos foi recentemente ampliado com as transmissões pelo YouTube. “Normalmente temos um público online igual ou até maior do que cabe na sala de concertos. Alguns vídeos já têm mais de 3 mil visualizações”, diz o diretor da OSPA.

Uma das mais longevas orquestras do país

Fundada em 1950, a OSPA é uma das orquestras em atividade ininterrupta mais antigas do Brasil. Até 1964, era mantida com a colaboração de sócios. Em 1965, a Sociedade Orquestra Sinfônica de Porto Alegre foi transformada em fundação vinculada ao governo estadual, que a administra por meio da Secretaria de Estado da Cultura. É considerada patrimônio histórico e cultural do RS e bem cultural de natureza imaterial de Porto Alegre.

Em seus primeiros anos, foi liderada por Pablo Komlós, regente húngaro que a dirigiu até 1978. Na sequência, teve como regentes titulares ou diretores artísticos David Machado, Eleazar de Carvalho, Flávio Chamis, Arlindo Teixeira, Tulio Belardi, Cláudio Ribeiro, Íon Bressan, Isaac Karabtchevsky, Tiago Flores, Evandro Matté e, atualmente, Manfredo Schmiedt.

Além dos concertos semanais da orquestra, que conta com cerca de 100 músicos, as atividades da OSPA incluem apresentações da OSPA Jovem, do Coro Jovem e da Orquestra de Sopros, além da atuação da Escola da OSPA.

Concerto de aniversário reúne obras inspiradas em lendas e tradições musicais brasileiras

O programa de OSPA 75 Anos começa com a obra Raízes – Concerto para Quarteto de Percussão e Orquestra, encomendada por um consórcio de orquestras à Clarice Assad, uma das mais importantes compositoras brasileiras contemporâneas. “Dentro da programação deste ano, buscamos oportunizar espaço para composições de mulheres, que muitas vezes não são conhecidas”, destaca Schmiedt, antecipando que Raízes oferecerá um momento participativo da orquestra com a plateia.

Articulando elementos de origens africana, indígena e europeia, a peça foi dedicada por Assad ao grupo de percussão Martelo, que participa das sessões de aniversário da OSPA com os solistas Camila Cardoso, Danilo Valle, Leonardo Gorosito e Rubén Zúñiga, mesclando elementos da música popular e de concerto.

Grupo Martelo. Foto: Ana Clara Miranda

A apresentação de instrumentos incomuns em solos é uma das marcas do primeiro ano da gestão de Schmiedt, que já levou gaita de foles e tuba para ocupar momentos individuais dos concertos. “A programação de 2026 vai seguir esse viés, com instrumentos tradicionais como solistas – piano, violino, violoncelo –, mas também outros instrumentos à frente”, antecipa o maestro.

Após Raízes, a OSPA interpreta A Salamanca do Jarau, bailado escrito em 1935 pelo compositor porto-alegrense Luiz Cosme. Divida em nove partes, a música é inspirada no conto homônimo de João Simões Lopes Neto, publicado em Lendas do Sul (1913). A partir de registros e manuscritos, três maestros da OSPA fizeram revisões e correções das partituras.

“Essas correções serão encaminhadas para Academia Brasileira de Música (ABM) para que as pessoas tenham a obra em sua versão mais fiel possível em relação ao original”, destaca o diretor da OSPA. Um vídeo da interpretação da versão revisada será futuramente disponibilizado nos canais de YouTube da ABM e da orquestra.

O concerto comemorativo termina com a peça Maracatu de Chico-Rei, escrita pelo compositor paulista Francisco Mignone. Assim como A Salamanca do Jarau, a obra se baseia em uma lenda: um rei africano, escravizado na exploração do ouro em Minas Gerais, compra sua alforria e liberta companheiros para formar a Confraria do Rosário e construir a Igreja Nossa Senhora do Rosário, em Ouro Preto (MG). A obra terá a participação de 72 vozes do Coro Sinfônico da OSPA, regidas pelo maestro Diego Schuck Biasibetti.

A partir de diferentes temas e sonoridades, a escolha das peças do programa de aniversário da OSPA busca celebrar também o Dia da Consciência Negra e as matrizes musicais afro-brasileiras. “É importante que a OSPA participe da celebração dessa cultura tão importante e enraizada no país”, afirma Schmiedt.

Antes das sessões de OSPA 75 Anos, o público também poderá assistir à palestra Notas de Concerto, às 16h, na Sala de Recitais da Casa da OSPA. Na conversa – incluída no ingresso para o concerto –, o timpanista Douglas Gutjahr comenta o repertório das peças que serão interpretadas às 17h e as biografias dos compositores – no dia 23 de novembro, haverá transmissão online pelo canal da OSPA no YouTube.

“Estamos numa campanha para que as pessoas venham experimentar os concertos da OSPA. Não precisa ir para Londres ou Nova York, nossa orquestra sinfônica está ali, com um empenho semanal. Ela é mantida por todos nós e é para todos nós”, convida Manfredo Schmiedt.

Concerto “OSPA 75 Anos” – Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, regida por Manfredo Schmiedt

Quando: 22 e 23 de novembro de 2025

Início das sessões: 17h

Palestra “Notas de Concerto”: 16h, com Douglas Gutjahr

Onde: Complexo Cultural Casa da OSPA (CAFF – avenida Borges de Medeiros, 1.501 – Praia de Belas – Porto Alegre)

Ingressos: de 10 a 50 reais – confira os descontos aqui –, à venda online ou na Casa da OSPA, nos dias do concerto, das 12h às 17h

Transmissão ao vivo: às 16h (Notas de Concerto) e às 17h (concerto) no canal da OSPA no YouTube – apenas apresentação do dia 23 de novembro
Programa

“Raízes – Concerto para Quarteto de Percussão e orquestra”, de Clarice Assad
Solista: Martelo

Intervalo

“Maracatu de Chico-Rei”, de Francisco Mignone
Participação especial: Coro Sinfônico da OSPA
Bailado
Chegada do Maracatu
Dança das Macumbas
O Príncipe Dança
Dança dos 3 Macotas
Dança de Chico-Rei e da Rainha N'ginga
Dança do Príncipe Samba
Dança dos 6 escravos
Dança dos Príncipes Brancos: Minuetto-Gaivota
Dança Final

Ricardo Romanoff

Repórter e editor de Cultura na Matinal. Também é tradutor, com foco em artes e meio ambiente, além de trompetista de fanfarra nas horas vagas. Contato: ricardo@matinal.org

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