A primeira edição do festival Palco Indígena começa nesta quinta-feira (6/11) e segue até domingo (9/11) com apresentações gratuitas de teatro e dança de artistas dos povos Kaingang e Mbya-Guarani (RS), Baniwa (AM), Kariri (CE) e Bororo (MT).
A iniciativa é dos criadores da mostra Tela Indígena, desenvolvida desde 2016, quando um grupo de estudantes do curso de Antropologia da UFRGS se propôs a ampliar a visibilidade da produção audiovisual de realizadores indígenas. Viabilizado com recursos da Lei Aldir Blanc, o Palco Indígena agora evidencia a produção indígena de artes cênicas.
“Se toda a cidade é território indígena, então toda a cidade pode ser palco”, afirma a bailarina e antropóloga Geórgia Macedo, que começou a idealizar o festival de teatro e dança enquanto circulava pelo país, ao lado da bailarina Nayane Gakre, com Água Redonda e Comprida. O espetáculo integra a programação de abertura do festival nesta quinta-feira (6/11), às 20h, com retirada de ingressos gratuitos a partir das 19h, no Teatro Renascença.

“Sentar-se em volta do fogo para ouvir e contar histórias é teatro. A luz da fogueira, do amanhecer e do anoitecer também são luzes cênicas”, observa Macedo, destacando o caráter basilar da oralidade nas culturas originárias e de uma teatralidade que precede noções artísticas de matriz europeia.
“A arte tradicional está sendo feita na contemporaneidade e ressignificada por tudo que passa pelos corpos dessas pessoas indígenas”, completa a artista.

Na sexta-feira (7/11), às 10h, uma roda de conversa reúne as artistas indígenas Angélica Kaingang (RS), Kiga Boé (MT) e Lilly Baniwa (AM) no Departamento de Artes Dramáticas da UFRGS.
Às 17h, na sexta, o Palco Indígena realiza sua primeira atividade descentralizada, na Retomada Gãh Ré (Morro Santana) com o espetáculo Ané das Pedras, da Coletiva Flecha Lançada, do povo Kariri (CE), formada por Idiane Crudzá, Kawrã e Bárbara Matias – relembre a entrevista sobre o espetáculo Ytá, apresentado recentemente em Porto Alegre por Matias e Edceu Barboza.
No sábado (8/11), às 15h, na Terra Indígena Anhetengua (Lomba do Pinheiro), Lilly Baniwa (AM) encena Ser-Huma-Nós, a partir de relatos de mulheres indígenas.
No domingo (9/11), às 9h30, na Redenção, próximo ao Monumento ao Expedicionário, o grupo Tupẽ Pãn (Aldeia Morro do Osso), do povo Kaingang, apresenta o espetáculo de canto e dança Resistência. Às 10h, a artista e antropóloga Kiga Boé, do povo Bororo (MT), apresenta Imedu/Aredu em TRANSito, lançando um olhar para vivências de indígenas LGBTQIAPN+.
Confira os detalhes da programação:
Quinta-feira (6/11)
19h – Abertura com apresentação de dança do Grupo Teko Guarani
Onde: Teatro Renascença (avenida Erico Verissimo, 307 – Menino Deus – Porto Alegre)
Criado em meio à luta pelo direito ao território, o grupo Teko Guarani, da Tekoa Anhetengua, traz a força da música sagrada, evocando o espírito da terra, da mata, das águas e das árvores frutíferas, por meio de instrumentos musicais como o mba’epu (violão), o rave (violino) e o mbaraka mirim (chocalho).
20h – Espetáculo de dança “Água Redonda e Comprida”
Onde: Teatro Renascença (avenida Erico Verissimo, 307 – Menino Deus – Porto Alegre)Por meio de narrativas coreográficas, iluminação, sonoplastia e um cenário que se transforma ao longo da peça, o espetáculo mostra o universo das águas desde a cosmovisão Kaingang. Estreando em cena as bailarinas Geórgia Macedo e Nayane Gakre, a apresentação tem orientação cênica, voz e narrativas de Iracema Ga Teh e Angélica Kaingang.
Sexta-feira (7/11)
10h – Roda de conversa com as artistas indígenas Lilly Baniwa (AM), Kiga Boé (MT) e Angélica Kaingang (RS)
Onde: Departamento de Artes Dramáticas da UFRGS (rua General Vitorino, 255 – Centro Histórico – Porto Alegre)
O encontro propõe um diálogo aberto entre as artistas e o público, refletindo sobre o que significa retomar os palcos e a cidade como artistas indígenas. Será um espaço para compartilhar experiências, trajetórias e memórias que fazem das artes cênicas espaço de resistência, sonhos e ancestralidade.
17h – Espetáculo “Ané das Pedras”, na Retomada Gãh Ré
Onde: Departamento de Artes Dramáticas da UFRGS (avenida Salgado Filho, 340 – Centro Histórico – Porto Alegre)
Na língua do povo Kariri, “ané” significa sonho vivo. Para eles, as pedras são seres vivos que sentem e falam: em tempos difíceis, vão até o terreiro, colhem uma pedra, conversam com ela e a devolvem à natureza. Esta obra é um ritual de plantação de pedra, como quem conta um sonho. Com direção da artista e escritora indígena Bárbara Matias, o espetáculo é performado por ela, Idiane Crudzá e Kawrã, que formam o Coletivo Flecha Lançada.
Sábado (8/11)
10h – Oficina “Escutar as Pedras – A Performatividade da Memória na Cena
Onde: Retomada Gãh Ré (rua Natho Henn, 55 – Morro Santana – Porto Alegre)
Inscrições gratuitas pelo perfil de Instagram @telaindigenaMinistrada por Bárbara Matias, a oficina mescla vídeos, poesias, mascaramentos, música, mapas e fotografias para acender memórias dos lugares de origem e performar tais memórias.
15h – Espetáculo de teatro “Ser-Huma-Nós”
Onde: Terra Indígena Anhetengua (Beco dos Mendonças, 357 – Lomba do Pinheiro – Porto Alegre)
Criação e atuação da indígena Lilly Baniwa, a obra é um solo que resgata memórias ancestrais contadas por mulheres indígenas, passando por ciclos femininos, questões de liberdade e perseguições, além da manutenção da vida.
16h30 – Oficina “Teatro Como uma Forma de Pussangar” – exclusiva para participantes indígenas
Onde: Terra Indígena Anhetengua (Beco dos Mendonças, 357 – Lomba do Pinheiro – Porto Alegre)
A oficina propõe uma prática inspirada em memórias, afetos e no cotidiano, conduzida por Lily Baniwa (AM), explorando o teatro como espaço de criação, resistência e valorização das artes e dos saberes indígenas.
Domingo (09/11)
9h30 – Apresentação de dança e canto com grupo Tupẽ Pãn
Onde: Parque da Redenção (próximo ao Monumento ao Expedicionário)
O grupo Tupẽ Pãn (Kaingang) traz a apresentação Resistência que reafirma a arte e a luta do povo Kaingang por meio da dança e do canto. O grupo é liderado por Clarisse Kokoj e foi criado em 2009 na Aldeia Morro do Osso.
10h - Encerramento com o espetáculo “Imedu/Aredu em TRANSito”
Onde: Parque da Redenção (próximo ao Monumento ao Expedicionário)
Conduzida pela artista e antropóloga Kiga Boé (Bororo), do Mato Grosso, o espetáculo é permeado por grafismos corporais com resgate de dados, experiências pessoais da artista e vivências de indígenas LGBTQIAPN+.