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Renata Dal Sasso: "Me voltei para a história do lugar onde nasci quando ele inundou"

Renata Dal Sasso: "Me voltei para a história do lugar onde nasci quando ele inundou"
Imagem: Editora Machado / Reprodução

Realizada neste ano sem maiores impactos da enchente de 2024, a 71ª edição da Feira do Livro de Porto Alegre contempla na programação o lançamento da obra Inundadas (Editora Machado), com ensaios da historiadora Renata Dal Sasso. A pesquisadora autografa o livro nesta quinta-feira (13/11), às 16h30, na Praça da Alfândega, local que esteve coberto pelas águas durante a maior crise climática do Rio Grande do Sul. O editor da Parêntese Luís Augusto Fischer conversou com a autora a respeito da obra, confira abaixo.

Luís Augusto Fischer – Primeiro livro solo: demorou? Devia ter saído antes? 

Renata Dal Sasso – Sim e não. Por um lado, não era o primeiro livro que eu imaginava que ia publicar. Sempre achei que seria algo acadêmico, derivado de pesquisa vinculada à universidade. Isso de ser um texto híbrido, muito pessoal e ensaístico, é resultado do que tenho escrito para a internet desde a pandemia, que começou com resenhas de romances para o site de um coletivo de historiadoras do qual fiz parte naquela época, e que terminou com minha newsletter. Por outro, não demorou quase nada, porque escrevi de um tirão, depois que a Editora Machado me convidou para escrever sobre o assunto. 

Luís Augusto Fischer – Como se sente uma historiadora e professora de História num livro de textos ensaísticos? Faz diferença? Tua formação apontava para algo assim, desde sempre?

Renata Dal Sasso – Antes de ser historiadora, eu já escrevia outros tipos de textos. Fui uma adolescente que escrevia poemas e contos ruins, escondido, e depois, na graduação, tive um blog. A escrita acadêmica, ironicamente, sempre me custou muito. Nunca quis publicar minha dissertação ou minha tese, por exemplo, e sofro muito para escrever artigos. Acho que ser uma historiadora que estuda literatura talvez tenha me levado por aí, porque leio muito mais textos literários ou de crítica literária do que propriamente historiográficos.

Luís Augusto Fischer – A enchente e tudo que a cerca, até agora, ocupa o centro das preocupações, ao menos como assunto, como horizonte. E a enchente é o presente, porque tem desdobramentos até agora, e é o futuro, porque pode muito bem voltar a ocorrer. Como uma historiadora lida com esse aparente paradoxo de estar voltada para o presente e o futuro, no livro, quando sua especialidade é conhecer e entender os processos que vêm do passado?

Renata Dal Sasso – Esse paradoxo é realmente apenas aparente porque os historiadores só escrevem a respeito do que escrevem porque são interpelados pelo presente e estão, de diferentes maneiras, preocupados com o futuro. Conscientemente ou não. No primeiro caso, basta ver que estamos redimensionando a história para incluir também eventos climáticos ou revisitando as pandemias anteriores. No caso desse livro, só fui realmente me voltar para a história do lugar onde nasci e por onde transito quando ele inundou. Não sou uma historiadora especializada na história de Porto Alegre ou até mesmo do Rio Grande do Sul. Com esse texto me senti muito mais produzindo uma fonte para entender a inundação, dentro dos marcos conceituais que se tornaram mainstream, como antropoceno, antirracismo e a noção de território do que propriamente fazendo um trabalho historiográfico.

Luís Augusto Fischer

Professor e editor da revista Parêntese.

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