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Ronald Augusto: "Enveredei por caminhos que eu não conhecia"

Ronald Augusto: "Enveredei por caminhos que eu não conhecia"

Autor de livro sobre Oliveira Silveira, o poeta e ensaísta Ronald Augusto participa de conversa sobre o intelectual e militante negro brasileiro nesta sexta-feira (7/11), às 10h, na 71ª edição da Feira do Livro de Porto Alegre. O autor retorna à programação do evento no dia seguinte, sábado, em duas ocasiões. Para dialogar, às 17h30, sobre sua própria obra, voltada ao público juvenil, e também para uma sessão de autógrafos na Praça da Alfândega, às 19h.

Como parte de uma série de entrevistas com escritores presentes na Feira, o professor Luís Augusto Fischer, da Universidade Federal do RS (UFRGS), falou com Ronald Augusto sobre sua tentativa de se colocar no lugar de leitores mais jovens, com a obra Bem de boas. Confira abaixo.

Luís Augusto Fischer – De onde saiu essa de poesia para leitores adolescentes? Tu já tinhas essa ideia em mente ou foi a experiência em escola, como professor, que apontou o caminho?

Ronald Augusto – Embora na orelha do livro haja uma menção à experiência escolar dos adolescentes como fonte inspiradora do livro, na verdade, Bem de boas é resultado de diversas circunstâncias. Eu posso afirmar, por exemplo, que a convivência com meus filhos durante a fase adolescente deles me forneceu ideias e imagens para alguns poemas; as palestras e os diálogos com estudantes via projetos institucionais que possibilitam a presença de escritores em escolas públicas para falar sobre literatura também foram importantes. Por outro lado, e como acredito que literatura não é produto apenas do vivido, mas também do imaginado, Bem de Boas nasceu de um desejo de imaginar algumas coisas do mundo do ponto de vista desses adolescentes; arrisquei um pouco me atrevendo a usar as lentes (desconhecidas para mim) dessa meninada.  


Luís Augusto Fischer – A elaboração de poesia com foco em leitores específicos, com menos estrada, menos tempo de vida, mais urgências – isso pensando num leitor paradigmático adulto, que nem existe direito... –, muda muito em relação ao teu caminho habitual de poeta?

Ronald Augusto – Minha relação como professor de jovens adolescentes é bem recente. Na maior parte do tempo, meu lugar de observação desses seres humanos se deu através da paternidade ou da condição de escritor. No livro há apenas dois ou três poemas que escrevi para leitores dessa faixa etária já atuando como professor. Portanto, o livro é, de algum modo, um exercício imaginativo e não um documentário de um estudioso da vida na adolescência, porque o tempo todo tentei escrever poemas como se eu lhes indagasse se as imagens e os momentos inventados seriam interessantes à maneira como pensam e sentem o mundo. Enveredei por caminhos que eu não conhecia. Mas alguém já disse que arte é risco. 

Luís Augusto Fischer – Tiveste alguma recepção já do leitor imaginado? Foi como esperado? 

Ronald Augusto – Isso significa que só agora com o livro materializado é que começo a receber as respostas e manifestações que têm sido positivas. Os primeiros leitores do livro (cuja redação inicial tem 10 anos) foram escritores meus conhecidos que trabalham há muito com literatura infantojuvenil. Nenhum deles me desestimulou, mas também não tive a recepção calorosa que eu imaginava. Talvez por isso o livro tenha ficado na gaveta por tanto tempo. Por razões meio confusas e engraçadas, os poemas chegaram até a Clô Barcelos, editora super ligada da Libretos, e o Bem de boas, finalmente, está agora nas livrarias. As ilustrações do Guazzelli, artista que eu não conhecia, são ótimas, pois capturam e traduzem com grande liberdade o imaginário melancólico e asperamente divertido dos jovens nessa fase da vida.

Luís Augusto Fischer

Professor e editor da revista Parêntese.

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