Um dos álbuns mais emblemáticos da trajetória de Vitor Ramil, Tambong será revisitado nos dias 7, 8 e 9 de novembro, no Teatro Simões Lopes Neto (Multipalco). Para comemorar os 25 anos do disco, o cantor e compositor pelotense sobe ao palco ao lado de Edu Martins (baixo) e Alexandre Fonseca (bateria).
Tambong foi lançado em 2000, na sequência de Ramilonga – A Estética do Frio (1997). Após explorar o repertório de milongas, Ramil sentiu a necessidade de regravar faixas de À Beça (1995), que havia tido uma tiragem reduzida. “Foi um dos meus momentos mais férteis como compositor, mas havia certa desigualdade interna entre famílias de canções”, recorda o músico, citando o disco que continha originalmente Não É Céu, Grama Verde, Foi no Mês que Vem e a faixa-título, regravadas em Tambong.
“À Beça veio depois da fase Barão de Satolep (personagem interpretado por Ramil em espetáculos), em que eu não me permitia nada. Nenhum modelo de canção me interessava, tudo me parecia simples demais, ingênuo, desnecessário. Praticamente não criava melodias, era tudo mais falado. No período do À Beça, voltei à canção com muita liberdade para aproveitar ideias e seguir intuições, o que acabou desaguando no Tambong”, diz Ramil.
O trabalho que completa 25 anos também é fruto de idas de Ramil à capital argentina no final dos anos 1990 para participar do festival Porto Alegre em Buenos Aires – promovido pelas prefeituras das duas cidades, quando foi um dos intérpretes do álbum Porto Alegre Canta Tangos – e de uma visita a casa de Mercedes Sosa, que pediu ao compositor uma versão em espanhol de de Não É Céu.
O processo de tradução ao lado de Sosa avançou para outras canções, que resultaram na versão em espanhol de Tambong, lançada em paralelo ao disco em português. As viagens portenhas renderam ainda encontros com o músico Pedro Aznar, coprodutor e um dos músicos do álbum.
Em meio às gravações em Buenos Aires, que contaram com a participação de Chico César, Aznar e Ramil foram gravar com Egberto Gismonti, João Barone e Lenine no Rio de Janeiro, onde surgiu o nome do álbum. “Estávamos na casa do Kledir, e sonhei que dizia ao Aznar que o álbum ia se chamar Tambong, porque essa palavra continha sons das palavras tango, samba, bossa, candombe e milonga”, conta Ramil. “Embora Tambong não chegue a ter canções desses gêneros, samba e milonga, é sugestivo dessa junção de músicos argentinos e brasileiros”, completa.

Além das regravações de faixas de À Beça e da canção Estrela, Estrela, Tambong apresentou composições inéditas de Ramil – A Ilusão da Casa, Espaço, Valérie, Subte e Quiet Music –, versões de poemas – O Velho Leon e Natália em Coyoacán (Paulo Leminski) e Para Lindsay (Allen Ginsberg) – e de duas músicas de Bob Dylan – Um Dia Você Vai Servir a Alguém (Gotta Serve Somebody) e Só Você Manda em Você (You’re a Big Girl Now).
A escuta de Tambong nos preparativos do show de aniversário levou Ramil a se impressionar novamente com a performance de Lenine em Um Dia Você Vai Servir a Alguém e recordar a intenção de “brincar de Beatles” em Subte – na qual divide os vocais com Aznar –, entre outras percepções positivas de um conjunto de faixas que estão completando 25 ou 30 anos de lançamento.
“São muitas canções que até hoje tenho que tocar praticamente em todos os shows. O Tambong talvez seja meu disco com canções mais populares, no sentido de terem sido gravadas por outros artistas e as pessoas cantarem junto. Não são óbvias, mas tiveram uma trajetória mais popular do que as demais”, reflete o músico.
Do encontro com o percussionista e arranjador argentino Santiago Vazquez, surgiu uma participação inusitada – e uma das sementes de Tambong para trabalhos que viriam nos anos e décadas seguintes. “Um dia ele me aparece no estúdio com uma cítara (mini harpa), que tinha encontrado encostada em uma árvore, toda enferrujada. Ele tocou aquele bein, boin meio desafinado, que acabou entrando em Espaço. No álbum seguinte, o Longes (2004), às vezes o Santiago simplesmente atirava o instrumento no chão. Ele é de uma musicalidade extraordinária”, conta Ramil.
Outro momento do disco de 2000 que ecoaria mais tarde é O Velho Leon e Natália em Coyoacán, versão para poema de Leminski que, por pouco, não ficou de fora do álbum. “No começo, eu não estava satisfeito. Mas o Pedro [Aznar] desconstruiu o começo e criou uma espécie de sonoplastia atmosférica muito interessante. Foi quando fiquei com a certeza da musicalidade da poesia do Paulo – e o Tambong foi bastante referencial para fazer o Manta Concreto”, lembra Ramil, vinculando o disco de 2000 e seu álbum de 2024, que reúne versos do poeta paranaense.
Para o show dos 25 anos de Tambong, Ramil promete ainda a versão em português de uma canção de Charly Garcia, renovando as conexões portenhas do álbum.
Show de 25  anos do álbum “Tambong”, de Vitor Ramil
Quando: 7, 8, 9 de novembro (sexta e sábado, às 20h; domingo, às 18h)
Onde: Teatro Simões Lopes Neto – Multipalco Eva Sopher (Riachuelo, 1089)
Ingressos à venda no site do Theatro São Pedro
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