Não sei se é bom ou ruim. Seguinte: agora os jornais e portais de notícia na internet vêm com duas linhas resumindo o assunto. Basta passar os olhos para ficar por dentro no padrão de informação desses dias apressados: superficial, raso e incompleto.
Pior seria saber das coisas pelos grupos do zap, alguns dirão. Fato. De todo jeito, sinto pelo jornalista que escreveu a matéria. Nem todos reconhecem, mas escrever dá trabalho. Não basta digitar e pronto, o texto sai na forma final e a pessoa vai lavar uma louça. Escrever uma matéria exige apuração, aplicação, dedicação. Assim como uma boa comida dá vontade de cumprimentar quem cozinhou, uma matéria bem escrita me dá vontade de abraçar quem escreveu. Quiçá beijar na boca, dependendo do caso.
Mas é isso, agora você pode ler o resumo da notícia e voltar para o seu Instagram em paz.
Outro gosto: ir a uma exposição e ler os textos maravilhosos decalcados nas paredes, a apresentação do artista, da obra, de como se chegou àquele resultado. Inveja do conhecimento, do estilo, da verve do curador. Só que tenho ido a algumas exposições que já trazem, ao lado do textão, um menorzinho, de algumas linhas, com a instrução: texto de leitura rápida. No caso de faltar paciência para o conhecimento, o estilo, a verve do curador.
Não é uma reclamação elitista, só tristeza pelo desperdício do talento alheio.
Já o Diego Grando, poeta e professor do time do Sarau Elétrico, fez do resumo um de seus números mais aplaudidos nas noites de terça-feira do bar Ocidente. Com seu jeito de dizer gravidades, só que não, ele resume grandes clássicos da literatura em poucas palavras. “Em busca do tempo perdido”, por exemplo. O Diego condensa as cerca de 2.500 páginas do original assim: um cara que passa a vida inteira tentando ser socialmente esperto e lembrando de coisas aleatórias, como o sabor de um bolinho, para finalmente aceitar que a vida é uma sequência de eventos sociais e memórias que não fazem muito sentido.
Bem usado, é inegável que o resumo tem seu valor. Chato é o exagero reverso.
PS: Parabéns às professoras e professores pelo 15 de outubro. Vocês são fundamentais para a gente, para o mundo. E parabéns para o Theo, meu filho, que fez aniversário no mesmo 15 de outubro. Fundamental para o meu mundo e para o de muita gente, também.