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Porto Alegre, 1890-91: A Escola Brasileira, de Getúlio e Maurício Cardoso; Colégio Anchieta e Cecília Corseuil du Pasquier

Parêntese #295

Porto Alegre, 1890-91: A Escola Brasileira, de Getúlio e Maurício Cardoso; Colégio Anchieta e Cecília Corseuil du Pasquier
Rua Duque de Caxias, cerca de 1900. Quarteirão onde se localizavam o Colégio Anchieta (nº 203) e Escola Brasileira (nº 239). Imagem: Acervo Arnoldo Doberstein

Assim como no Império, os positivistas também delegaram uma parte do ensino básico e fundamental a terceiros. Diziam que era para concentrar suas ações no ensino superior (o conjunto de faculdades, hoje UFRGS). Assim sendo, já em 1890 autorizaram o professor Inácio Montanha (Fig. 1) a criar a Escola Brasileira e ao jesuíta Pe. Francisco Trappe o Colégio dos Padres, depois Anchieta. Em 1891 foi a vez da professora Cecília Corseuil du Pasquier (Fig. 1) criar a escola que levou seu nome. Lugares de excelência onde os jovens iniciavam sua preparação rumo os principais cargos políticos, administrativos e judiciários do Estado, para se firmarem no profissionalismo liberal e empresarial, e as moças se refinarem no trato e habilidades manuais, preparar-se para o magistério e arranjar um bom casamento. Para escolas de excelência, lugares nobres da cidade. O Anchieta e a Escola Brasileira na Duque de Caxias, proximidades da Praça da Matriz (Fig. 2); a Escola da professora Cecília, na Marechal Floriano, nº 125.

A importância dada ao ensino pelos positivistas está nas páginas do A Federação, com a trajetória estudantil de grandes nomes da nossa história política, cultural e empresarial. Entre dezenas, destacamos os casos de Getúlio Vargas e Maurício Cardoso (Fig. 3). Frequentaram a Escola Brasileira entre 1902-03 (Vargas) e 1903-04 (Cardoso). Getúlio, um aluno mediano. Das oito disciplinas do curso preparatório para estudos superiores foi aprovado “simplesmente” em seis, e “plenamente” em duas (o grau máximo era “com distinção”). Maurício Cardoso, um aluno mais aplicado: nas oito disciplinas passou “com distinção” em cinco e “plenamente” em três (A Federação, 9/01/1903, p. 3; 13/01/1903, p.3; 9/01/1904, p.3; 18/01/1904, p. 4; 18/03/1904, p.2 e 11/12/1904, p.2).

Vargas entrou na Faculdade de Direito em 1904, Cardoso em 1905, cursando Direito Civil e Direito Comercial. No exame final Vargas foi aprovado “plenamente” e Cardoso “com distinção” (Ibidem, 1/12/1905, p.2 e 13/12/1906. P. 2). Com Vargas como orador da Faculdade nas homenagens a Castilhos (Ibidem, 22.10.1904, p.4) e Afonso Pena, (Ibidem, 16/07/1907, p. 2) e Maurício Cardoso como redator do jornal acadêmico. Daí pra frente estiveram sempre muito próximos. Na Assembleia Estadual, na Revolução de 30, no primeiro Governo Vargas (1930-37) com Cardoso como Ministro do Trabalho, no Estado novo (1937-1945) como Interventor interino no RGS. Sempre com Vargas na liderança. Ou seja, como em outros casos, currículo escolar não dizendo muita coisa.

O cotidiano escolar em Porto Alegre: representações

Diferente de A Federação, nossos artistas prestaram pouca atenção ao cotidiano de nossas escolas. Por isso é de se exaltar a primorosa litografia de Ignácio Weingartner (Fig. 4) e a interessante têmpera de Ernst Zeuner (Fig. 5), encomendada pela Revista de Ensino da Secretaria de Educação do Estado, em meados de 1940, reproduzindo um cotidiano escolar não muito longe do que acontecia na Escola da professora Corseuil.

Esquerda: Professor Inácio Montanha (1858-1933), fundador da Escola Brasileira (1890), onde atuou como diretor até meados de 1908. Direita: Professora Cecília Corseuil du Pasquier (1859-c.1930), fundadora da Escola feminina que levou seu nome (1891) e se manteve ativa até meados de 1927. Imagem: Acervo Arnoldo Doberstein
Esquerda: Getúlio Vargas (1882-1954), com 12 anos (1894), 8 anos antes de frequentar a Escola Brasileira (1902-03). Direita: Maurício Cardoso (1888-1938), com 20 anos (1908), ano que se formou em Direito. Imagem: Acervo Arnoldo Doberstein


Ernst Zeuner. Principais comemorações do ano: Páscoa, sem data. Têmpera sobre papel, 38 x 54 cm. Imagem: Acervo MARGS

As opiniões emitidas pelo autor não expressam necessariamente a posição editorial da Matinal.

Arnoldo Doberstein

Professor e estudioso da história de Porto Alegre.

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