Confira todos os textos da edição #301
- Diário da guerra do sono: Capítulo I – Caxambu, por Cristiano Fretta
- A força de um enredo, por Luís Augusto Fischer
- Vida bela, morte estranha, por Álvaro Magalhães
- O garotão da esquina, por Luís Augusto Fischer
- Sobre Lô, nós, a necrofilia da arte e “todo tempo passado foi melhor”, por Arthur de Faria, Arthur de Faria
- Candid Photography, por Humberto Cavalcanti
- Nostalgia por um ferro-velho, por Vitor Necchi
- Em defesa da soberania audiovisual brasileira, por Luiz Alberto Cassol
- Os espaços de aprendizagem como lugares de construção do ser, por Gustavo Borba e Isa Mara Alves
- Monteiro Lobato era racista?, por Juremir Machado da Silva
- Duas ou mais coisas que eu sei sobre o Raduan Nassar, por Helena Terra
- Porto Alegre, 1892-93: Bombardeio da Canhoneira Marajó e tiroteio no Café América, por Arnoldo Doberstein
A polêmica continua.
O criador do Sítio do Picapau Amarelo era racista ou não? As suas obras expressavam o espírito da época ou o racismo do autor?
O advogado gaúcho Marco Túlio de Rose entra na discussão com um livro que vai direto ao ponto: Afinal, Monteiro Lobato era racista?
Apaixonado pela obra de Lobato, ele sai em sua defesa.
Intelectual conhecido, advogado competente, De Rose argumenta como se estivesse num júri a partir de fatos concretos citados contra Lobato.
Ele examina cartas e um artigo acusado de racismo. Analisa o tema da eugenia, o pensamento racial brasileiro da época, o racismo na personagem Tia Anastácia e o estilo do escritor. Tudo é revolvido como num processo.
O argumento principal é do olhar e dos valores da época em que Lobato escreveu. De Rose luta contra o crime de anacronismo, que seria julgar o passado com parâmetros do presente: “Ao estudar suas obras, percebemos em suas produções uma imagem do negro no contexto da época em que o autor escreveu suas obras, quando os negros viviam afastados da história narrada. Lobato, contundo, já fazia referências à etnia e à diversidade cultural em suas produções. Empregava, e disso fazia profissão de fé, a linguagem do seu tempo, na representação do negro, mas sempre chamando a atenção para a importância de sua participação na sociedade brasileira”.
O advogado, em defesa aberta e assumida, sugere que Monteiro Lobato era realista. Apresentava o contexto do seu tempo como ele se mostrava e era. De Rose, interpela acusadores, contraria os seus argumentose polemiza: “A acusação, neste sentido, parte do grave defeito de desconsiderar a evolução do seu pensamento politico e sociológico, que, neste sentido, partindo de Euclides da Cunha e passando por Gilberto Freyre, culmina em manifestações muito próximas dos autores contemporâneos que atribuem às causas socioeconômicas os males dos “Jecas Tatus da vida brasileira”.
Ou todos eram racistas? O autor fecha citando o escritor negro Lima Barreto referindo-se a Monteiro Lobato: “O que se evola de suas palavras não é ódio, não é rancor, não é desprezo, apesar da ironia e da troça: é amor, é piedade, é tristeza de não ver o Jeca em condições melhores”.
Mas Lobato era ou não racista?
Tia Anastácia era “escrava” de Dona Benta?
O intelectual Monteiro Lobato via superioridade nos brancos?
Marco Túlio de Rose relativiza com base no entendimento de que escrever para um vasto público exige entrar no seu imaginário: “Lobato falava dos negros, especialmente de Nastácia, como se falava dos negros no tempo em que escreveu a maior parte de sua obra infantil, anos 1920 e 1930. Se a adjetivação ‘negra’, ‘pretume’, ‘beiçuda’ trazia uma conotação negativa, isso não era importante para o autor, dentro da sua posição estilística de fazer com que as suas personagens infantis falassem e ouvissem falar como as pessoas falam”.
Na obra de Machado de Assis, negro quase não fala. É entra um preto, sai um preto, mas raramente esse preto tem histórias, amores, etc.
O debate está novamente aberto.
Lançamento na Feira do Livro de Porte Alegre neste domingo (9/11), às 17 horas.