Uma visita à Redenção resultou em uma denúncia feita ao Ministério Público do Rio Grande do Sul. A ausência de cobertura vegetal chamou a atenção do biólogo Daniel Meyer. Ele passou então a catalogar cada pedaço de vegetação morta ou suprimida no parque. “São 329 árvores que morreram após terem sido cortadas, pela idade, entre outros fatores”, conta. A quantidade calculada pelo biólogo é equivalente a 5% do total de árvores na Redenção, que conta com cerca de 6,4 mil vegetais, segundo levantamento da prefeitura.
Em material enviado ao MP em 3 de outubro, Meyer sugere que a prefeitura de Porto Alegre faça o replantio de cinco mudas para cada item catalogado. Com esse acréscimo, a Redenção receberia 1645 novos vegetais.
No MP, a denúncia do biólogo se somou a outras já feitas sobre cortes ou podas de árvores na Redenção, que levaram à abertura de um inquérito para “averiguar depredação do Patrimônio Cultural no Parque Farroupilha”. A investigação iniciou em 2017 e apura a manutenção do parque e dos monumentos e o cuidado com a vegetação da Redenção. Segundo a promotora da Promotoria de Defesa do Meio Ambiente Annelise Steigleder, a prefeitura será oficiada para prestar esclarecimentos sobre os fatos apresentados por Meyer.
Dados obtidos pela Matinal através da Lei de Acesso à Informação (LAI) revelam que arredores da Redenção registraram cinco denúncias de remoção, corte parcial e desmatamento sem autorização entre março de 2022 e janeiro de 2025. De acordo com as informações fornecidas pela Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (Smsurb), a denúncia mais recente é de 24 de janeiro deste ano e não havia sido verificada pela secretaria até agosto.
Em Porto Alegre a Lei Complementar 757/2015 estabelece as regras para supressão, transporte e poda. A tabela de compensação vegetal estabelece entre uma e 17 mudas a serem compensadas para cada árvore removida, dependendo das características – como espécie e altura – dos vegetais retirados. Segundo Meyer, a proposta de cinco mudas por árvore perdida na Redenção é razoável, considerando que nem todos os exemplares mortos que ele identificou foram cortados. “Eu não fiz esse quantitativo das árvores que foram cortadas. Somei tudo, inclusive as que morreram naturalmente, explica.

Último plantio de mudas na Redenção ocorreu em dezembro
Em dezembro do ano passado, a Redenção recebeu 33 novas mudas, segundo informações que constam no inquérito do MP. A ação é resultado de um acordo entre a prefeitura e a promotoria. Não há registro do plantio de mais árvores no parque desde então. O mero plantio de mudas, entretanto, não é uma garantia de que esses vegetais cheguem à vida adulta, de acordo com Heverton Lacerda, presidente da Agapan, que, em março de 2025, concedeu entrevista à Matinal sobre a reposição arbórea na capital.
Segundo documento da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus) anexado ao inquérito, o parque ganhou os seguintes espécimes:
- Quatro louros-pardo (Cordia trichotoma);
- Duas corticeiras-do-banhado (Erythrina cristagalli);
- Três paus d’arco (Guarea macrophylla);
- Três guabirobeiras (Campomanesia xanthocarpa);
- Nove tucaneiras (Citharexylum myrianthum);
- Cinco batingueiras (Eugenia rostrifolia);
- Um araçá-piranga (Eugenia multicostata);
- Uma jabuticabeira (Plinia peruviana);
- Três capororocas (Myrsine laetevirens);
- Duas canafístulas (Peltophorum dubium);
Procuradas pela Matinal para comentar a denúncia de Meyer, a Smsurb e a Smamus não retornaram os pedidos da reportagem.
Redução de árvores alarma ambientalistas, mas Porto Alegre é premiada
Investigações anteriores da Matinal já apontaram uma queda expressiva da vegetação urbana de Porto Alegre por causa da enchente de 2024 e de novos empreendimentos imobiliários, em diferentes locais da cidade, como Jardim Itu Sabará e Restinga. O último levantamento da Smamus indica que a capital possuía 204 km² de cobertura de árvores em 2023, ou 43% da área do município.
Entre o fim de 2023 e o ano passado, a reportagem, entre outras matérias, apurou o corte de jacarandás cortados em plena floração na avenida Ipiranga, contou a história da derrubada de um guapuruvu histórico no bairro Petrópolis que dará lugar a um prédio e a retirada de 315 árvores para a construção de um condomínio de luxo, na zona sul de Porto Alegre. Todas com autorizações.
Apesar do cenário que preocupa ambientalistas, Porto Alegre recebeu na última quinta-feira o selo “Cidade Amiga das Árvores” no evento de 40 anos do Encontro Nacional de Arborização Urbana. O evento foi promovido pela Smamus e pela Sociedade Brasileira de Arborização Urbana (Sbau).