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Em novo estudo, órgão técnico do MP não vê justificativa para adensamento em Porto Alegre

Centro de Apoio Operacional do MP alerta para ausência de mapeamentos de áreas de risco na proposta da gestão Melo e risco de retrocesso democrático com mudança no CMDUA

Em novo estudo, órgão técnico do MP não vê justificativa para adensamento em Porto Alegre
Novo estudo técnico do MP não vê justificativa para adensamento | Foto: Ederson Nunes / CMPA

Em um novo estudo técnico publicado nesta semana, Centro de Apoio Operacional de Defesa da Ordem Urbanística e Questões Fundiárias do Ministério Público (CAOURB) apontou que a proposta de revisão do Plano Diretor não demonstra estudos suficientes para embasar a defesa do adensamento construtivo e habitacional proposta pela gestão de Sebastião Melo (MDB). Os projetos já estão em tramitação na Câmara e há expectativa para votação no mês que vem

No fim de julho, o CAOURB já havia publicado uma primeira versão do estudo, depois da divulgação das minutas dos projetos do Plano Diretor Urbano e Sustentável (PDUS) e da Lei de Uso e Ocupação do Solo (LUOS). Na ocasião, o promotor Cláudio Ari, que coordena o centro, apontou inconstitucionalidades no projeto, parte delas solucionadas agora – a retirada do coeficiente de aproveitamento da LUOS para o Plano Diretor e a inserção de um mapa de risco. Na nova versão, o trabalho se debruça sobre os impactos à cidade com o novo regramento proposto. 

O documento lançado recentemente integra um trabalho do grupo com relação aos planos diretores de municípios suscetíveis a desastres. No caso da capital, tal como a primeira versão, manteve o tom crítico às propostas. Em uma análise de 232 páginas, a conclusão é dividida em sete tópicos, com 38 constatações. Em suma, apontam o descompasso entre o crescimento populacional – há menos gente morando em Porto Alegre do que havia em 2010 – e o incentivo ao adensamento, que, para o CAOURB, não encontra justificativa consistente.

As propostas, conforme o estudo, também desconsideram o tratamento adequado de áreas suscetíveis à ocorrência de deslizamentos ou inundações, como determina o Estatuto da Cidade. Essa situação também se aplica à Ilha Grande dos Marinheiros: “O Plano Diretor não incorporou mapeamentos de risco atualizados nem medidas de mitigação”, ressalta. 

Ainda quanto ao território, o texto alerta sobre o possível adensamento populacional de áreas rurais e naturais, hoje preservadas, por meio de parâmetros urbanísticos mais permissivos, além de não contemplar comunidades indígenas e quilombolas já reconhecidas, pois há falta de “instrumentos que salvaguardem a manutenção destas comunidades em seus territórios”.

Quanto à gestão, o CAOURB indica que a mudança proposta na composição do Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano e Ambiental (CMDUA), concentrando poder no governo municipal, algo que, por tabela, enfraqueceria o controle social. Pela proposta, o CMDUA deixaria de ser tripartite para ser bipartite, tendo mais integrantes e sem a participação garantida de entidades como UFRGS e Metroplan. O órgão do MP vê na alteração um risco à qualidade técnica e redução de transparência nas decisões, “representando um retrocesso democrático e institucional no planejamento urbano de Porto Alegre”.

Tiago Medina

Jornalista cofundador da Matinal, repórter e editor. Especialista em Jornalismo Digital e mestrando em Planejamento Urbano e Regional. Ciclista, vencedor na categoria imprensa do prêmio CAU/RS 2024. Contato: tiago@matinal.org

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