Advogado e ex-governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro foi o convidado da penúltima edição de 2025 da Sabatina Parêntese, no último sábado. A série de diálogos realizada na livraria Paralelo 30 estimula debates essenciais para Porto Alegre. No encontro, a proposta era debater “o futuro da democracia entre nós”, e Tarso abordou contextos sociopolíticos que se entrelaçam com sua própria trajetória, considerando passagens em posições estratégicas em nível partidário, e nos governos municipal, estadual e federal.
Autor de Utopia Possível, uma coletânea de ensaios sobre política, economia, cultura e direito, o advogado lembrou que é preciso paciência histórica para enfrentar o presente, no Brasil e no mundo. “Estamos em um longo ciclo de deterioração das relações humanas e políticas, e do estado com a sociedade”, disse. Quanto à democracia, afirmou: “Para saber qual é o próximo passo, precisamos entender por onde andamos até agora”.
Tarso vê com pessimismo o modelo em cena atualmente, o que segundo ele demanda alterações: “A democracia liberal-representativa tal qual está posta não tem futuro, e precisa ser reformada”. Essa alteração, afirmou, pode vir de uma crise, onde o país se veja diante de um impasse, e para o qual deve estar preparado. Isso pode tomar forma em uma nova constituinte ou um amplo acordo político entre forças, passando por dentro do parlamento.
A falta de perspectiva, afirmou o ex-governador do RS, ocorre devido às bases do modelo vigente, feito para o que chama de “sociedade da praça”, com pessoas nas ruas pensando, lutando e demandando, o que infelizmente está se perdendo. “Precisamos pensar em uma reforma política radical e no entorno do estado democrático, com uma constelação de instituições que façam o controle de fora para dentro, e não apenas pelos poderes tradicionais e órgãos burocráticos”, acrescentou.
Questionado a respeito do modelo de globalização, em crise diante de recentes ações do governo de Donald Trump, nos Estados Unidos, Tarso vê um cenário de transformação, com novos relacionamentos geopolíticos em negociações comerciais internacionais, além de novas esferas de decisão, mais regionalizadas e descentralizadas. Nesse contexto, argumentou, o Brasil deve pensar adequadamente a formação de um grupo de países democráticos no Mercosul, criando um “cordão sanitário” do ponto de vista político em relação à gestão de Javier Milei na Argentina. “Fazendo articulação comercial entre nações. Seria um modal de soberania compartilhada entre si e com focos de poder internacional, seja com União Europeia, China ou a presença inevitável dos EUA”.
O diálogo completo, mediado por Luís Augusto Fischer, foi transmitido ao vivo no canal da Matinal no YouTube, e segue disponível na playlist com os demais eventos promovidos pela Sabatina Parêntese. Assista abaixo.