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Vitor Ramil em três noites

Cantor se apresentou no Simões Lopes Neto

Vitor Ramil em três noites
Alexandre Fonseca (bateria), Vitor Ramil e Edu Martins | Foto de Ana Cláudia Rodrigues

Músico sofisticado, com público culto cativo, Vitor Ramil é o grande nome do Rio Grande do Sul numa arte elaborada, a da canção modernista, aquela que se baseia em rigor formal, criatividade, letras ousadas, interpretações inovadoras, arranjos não convencionais e liberdade, muita liberdade para ir da milonga à poesia concreta.

Em três noites no teatro Simões Lopes Neto, em Porto Alegre, para marcar os 25 anos do seu disco Tambong, Ramil encantou como sempre pela qualidade do seu trabalho e pelas suas interpretações. Mesmo sem cantar seus maiores sucessos, salvo Estrela, estrela, que foi regravada no álbum rememorado, arrancou aplausos demorados. As suas referências e parcerias mostram quem ele é: o genial escritor argentino Borges paira sobre o seu imaginário. O poeta paranaense Paulo Leminski, com sua modernidade radical, é musicado com estilo.

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As falas de Ramil durante o show do sábado à noite revelam a sua visão do estado da arte da música popular no Brasil. Ele destacou que, como outros, que estão sempre “despontando para o fracasso”, as suas músicas não tocam em rádio, exceto na FM Cultura de Porto Alegre e, antes, na mítica Ipanema, que marcou época na capital gaúcha. Em tempos de hegemonia do sertanejo, com seus acordes pobres e suas letras rasas que arrastam multidões, é duro ser bom e ignorado pelo grande público e pela mídia, que ainda faz e desfaz reputações.

Vitor Ramil é um gigante, tão grande que a mídia de massa não tomará providências para dar a ele um público gigantesco merecido.

Carlos Heitor Cony, que figuraria entre os grandes, passou 25 anos sem publicar literatura. Questionado, respondeu com fina ironia:

“Publiquei e ninguém tomou providências”.

A sua coluna na Folha de São Paulo obrigou a crítica a tomar providências: foi premiado, adulado, incensado, reconhecido.

Vitor dedicou o seu show de sábado ao grande Juarez Fonseca. Mais do que merecido por tudo o que Juarez já vez pela cultura no RS. Juarez foi o jornalista que me levou para o Segundo Caderno da Zero Hora, em 1988, me tirando do esporte. Não o culpem por essa derrapada.

Eu pedi.

Vitor Ramil fez mais um baita show. Bravo!

As opiniões emitidas por colunistas não expressam necessariamente a posição editorial da Matinal.
Juremir Machado da Silva

Juremir Machado da Silva

Jornalista, escritor e professor de Comunicação Social na PUCRS, publica semanalmente a Newsletter do Juremir, exclusiva para assinantes dos planos Completo e Comunidade. Contato: juremir@matinal.org

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