Último romance escrito por Erico Verissimo (1905 – 1975), Incidente em Antares precisou driblar a censura para ser lançado em 1971, durante a ditadura militar. Mais de 50 anos depois, a trama segue atual e ganha nova adaptação para os palcos, concebida pelo Grupo Cerco, com sessão nesta terça-feira (18/11), às 19h, no Teatro Oficina Olga Reverbel, integrando a programação do Festival Legado – que celebra os 120 anos de nascimento do autor de O Tempo e o Vento.
Erico em Antares é a segunda adaptação da companhia para o livro de Verissimo. A primeira versão, concebida em 2012, rendeu ao grupo os prêmios Braskem de Melhor Espetáculo, Melhor Direção (Inês Marocco) e Melhor Atriz (Martina Fröhlich). A peça também levou o troféu Açorianos de Melhor Trilha Sonora.
O que muda agora, segundo Marocco, é que o Grupo Cerco se apropria de outro elemento da trama. “Trouxemos Erico à cena, seguindo a lógica criada pelo autor, onde ele e os mortos em Antares também existem – e andam e falam. Criamos cenas onde, por vezes, estamos lendo esse romance. Em outros, o próprio Erico nos relata o que escreveu”, conta a diretora.
Ela buscou realizar o que chama de “autópsia pública” do romance, trazendo à luz nuances sobre a escrita de Verissimo: “Ele disse muita coisa com esse livro que não cabe nas palavras. Está nas entrelinhas, e são essas vísceras que decidimos mostrar ao público”. O elenco responsável por dissecar a obra é formado por Anildo Böes, Kalisy Cabeda, Manoela Wunderlich, Marina Kerber, Paulo Roberto Farias e Philipe Philippsen, com trilha sonora ao vivo de Gabriela Lery.
Apresentada pela primeira vez há poucos dias, na 71ª Feira do Livro de Porto Alegre, a nova montagem aprofunda mensagens que Erico deixou escondidas no texto. “Aquilo que apenas o leitor atento percebe – e que os próprios fiscais da censura, em 1971, durante o AI-5, parecem não ter percebido. Caso contrário, o texto certamente teria sido censurado”, explica a diretora. “São códigos, quase mensagens cifradas, que Verissimo nos revela após tantas visitas ao texto original”, completa.
Publicado originalmente pela editora Globo, Incidente em Antares é considerada uma sátira contra a repressão e chegou a ser lançada com a frase “num país autoritário, este livro seria proibido”. O leitor encontra-se em anos pré-ditadura militar brasileira, em uma cidade fictícia do interior do Rio Grande do Sul. Durante uma greve geral em Antares, sete pessoas morrem em uma sexta-feira 13 e são privadas do sepultamento, já que os coveiros aderiram à paralisação. Incomodados, os defuntos se unem aos vivos para discutir em praça pública, expondo que há algo de podre na vida social e política da cidade.
Para Marocco, os personagens mortos representam todas as classes sociais. “O texto do romance já é muito bem-sucedido em estabelecer Antares como um microcosmo, uma cidade cosmopolita que representa toda a sociedade brasileira e até alguns aspectos estrangeiros”, ressalta.
“Erico Verissimo colocou o Rio Grande no mapa literário do país”, afirma Hohlfeldt
Realizado desde outubro por três instituições – Fundação Theatro São Pedro, Assembleia Legislativa do RS e Unimed/RS –, o Festival Legado une quadrinhos, cinema, música, teatro e literatura para celebrar a trajetória de um dos mais importantes autores das letras em língua portuguesa.
Na quarta-feira (19/11), às 13h, na Casa da Memória Unimed, o festival inaugura a exposição Erico – Entre Linhas e Afetos, estabelecendo relações entre literatura e artes visuais. Com curadoria de Marco Aurelio Biermann Pinto e José Francisco Alves, a mostra segue em cartaz até 23 de dezembro, de segunda a sexta, das 13h às 18h, com entrada franca.
O encerramento do festival será na sexta-feira (21/11), às 19h, no Teatro Oficina Olga Reverbel, em encontro que reúne as professoras Socorro de Assis, Mara Jardim e Ana Cláudia Munari para debater a presença das mulheres na obra de Verissimo.
“Festejar os 120 anos de Erico Verissimo é obrigação de todo o cidadão sul-rio-grandense. Erico Verissimo colocou o Rio Grande no mapa literário do país”, afirma o presidente da Fundação Theatro São Pedro, Antonio Hohlfeldt. Para o ano que vem, afirma o presidente da instituição, será a vez de Mario Quintana (1906 – 1994) receber homenagem pelos 120 anos de nascimento.
Quando: 18 de novembro, às 19h
Onde: Teatro Oficina Olga Reverbel (rua Riachuelo, 1089 – Centro Histórico – Porto Alegre)
Ingressos: entre 20 e 40 reais, no site do Theatro São Pedro, ou na bilheteria, no dia do evento