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A arrogância que pode rebaixar o Inter

A arrogância que pode rebaixar o Inter
Presidente do Inter, Alessandro Barcelos | Foto: Ricardo Duarte/ S.C. Internacional/Divulgação

O Internacional está onde está por culpa direta de Alessandro Barcelos. Desde a campanha, ele vendeu a ideia de um “novo Inter”, como se o clube precisasse ser reinventado do zero. Acreditou nessa fantasia e agiu com arrogância, ignorando que presidência não é palco para experiências pessoais. Recebeu um time vice-campeão brasileiro, com vaga garantida na Libertadores e uma estrutura sólida, mas decidiu demolir tudo. Apostou na ruptura, desprezou o trabalho anterior e achou que saberia mais do que o próprio futebol. Demitiu o técnico que havia garantido resultados e trouxe um nome que ninguém conhecia por aqui, Miguel Ángel Ramírez, o símbolo de um projeto de vaidades que confundiu inovação com destruição.

Barcelos acreditou que o clube precisava ser “reconstruído” sob sua visão. Só que futebol não se reinventa por decreto. Quando uma equipe encaixa, o dirigente precisa ter a sensibilidade de preservar, não de começar do zero. A decisão de romper com tudo desmontou um time que funcionava, minou a confiança do vestiário e abriu uma sequência de erros que hoje cobra um preço alto.

O tal “novo Inter” virou um slogan vazio. O presidente cercou-se de aliados e montou uma estrutura de amigos, onde a lealdade valeu mais que a competência. O vestiário se fragmentou, a competitividade sumiu e a torcida viu o elenco piorar a cada temporada. A promessa de modernidade virou improviso e autopromoção. O resultado é um clube endividado, com menos poder de investimento e um time que, em novembro, flerta perigosamente com a Série B.

O desmonte técnico foi devastador. Rodrigo Caetano, David Bandeira, Cristiano Nunes, Hélio Carravetta e o mais grave, Abel Braga. Outros profissionais experientes também foram dispensados. Entraram pessoas sem vivência no futebol. Essa troca minou o Inter por dentro, tirou o planejamento, a rotina e a referência de alto nível. A ideia de renovação serviu apenas para afastar quem tinha conhecimento e autonomia. O fracasso foi tão profundo que até o time sub-20 acabou rebaixado.

A arrogância foi tamanha que nem Fernando Carvalho, o dirigente mais vitorioso da história colorada, escapou. Sua opinião passou a ser tratada como incômoda. O Inter rompeu com o próprio passado, como se fosse possível apagar conquistas e aprendizados. Nenhum clube se sustenta negando sua história. O novo comando confundiu independência com ingratidão e acabou isolado, sem referências e sem rumo.

Mesmo quando o time caiu na zona de rebaixamento, em junho, nada mudou. Barcelos manteve os amigos, os mesmos erros e a mesma teimosia. O Inter virou um feudo, uma confraria que confunde lealdade com competência. A omissão diante da crise expôs o despreparo de quem comanda o clube. Não mudar nada depois de entrar na zona da degola é a prova final de que a vaidade venceu o bom senso.

Hoje o Inter joga futebol de Série B. Só um milagre pode evitar o rebaixamento. O torcedor paga o preço da soberba de um presidente que quis ser gestor e técnico ao mesmo tempo. Se o clube sobreviver, será pela força da camisa, não pela gestão. E se cair, será lembrado como a obra mais cara da arrogância colorada.

As opiniões emitidas por colunistas não expressam necessariamente a posição editorial da Matinal.
Nando Gross

Nando Gross

Jornalista e comentarista esportivo, com passagem por algumas das mais importantes emissoras de rádio do país. Contato: nandogrossjornalista@gmail.com

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