Ver a Mona Lisa através de um vidro à prova de balas. Caminhar pela Grande Muralha da China. Andar de gôndola em Veneza ou de bicicleta em Amsterdã. Ser atropelado por uma bicicleta em Amsterdã, ou extorquido por um gondoleiro em Veneza. Contemplar o mar azul e as casinhas brancas das ilhas gregas. Comer uma paella em Oslo, visitar o Coliseu em Roma e contemplar a Pietà na Basílica de São Pedro, também atrás de um vidro blindado. Subir na Torre Eiffel, ou na cúpula do Duomo de Florença, ou nas alturas de Machu Picchu. Descer o Grand Canyon do Colorado ou mergulhar na Grande Barreira de Coral. Caminhar sobre as geleiras, se ainda não derreteram. Ensurdecer com o estrondo das Cataratas do Iguaçu, fazer o Caminho de Santiago dormindo em pousadas cinco estrelas, tirar uma selfie na frente da Coluna de Nelson, ou do Portão de Brandemburgo, ou da Fonte de Cibeles, ou da Fontana di Trevi, ou do Grande Buda no templo Tōdai-ji, ou passear pelas Ramblas de Barcelona e entrar em êxtase dentro da Sagrada Família. Voar de balão na Capadócia, andar num ônibus de dois andares em Londres, ir ao British Museum, descobrir A Origem do Mundo de Courbet e admirar os quadros de Renoir, Monet e van Gogh no Museu d'Orsay para voltar ao Louvre e se encantar com a Vênus de Milo ou com Eros e Psique.
A lista poderia ser muito, muitíssimo maior, não infinita, mas inumerável o suficiente para esgotar os sinônimos de admirar, contemplar, encantar e maravilhar, de subir e descer, de passear e navegar. As opções para fazer turismo são muitas, atraentes e cansativas. Turismo é o oposto de férias. Depois de visitar dez museus, subir em outras tantas cúpulas e campanários e percorrer os bairros mais encantadores de uma dúzia de cidades em cinco países diferentes, voltamos para casa exaustos.
O turismo cansa, não apenas por caminhar, ou por ficar parado na frente de inúmeros quadros e estátuas, ou por percorrer ruas nem sempre planas (você já foi a Lisboa, ou a Ouro Preto?). Há um problema maior, do qual somos vítimas e algozes ao mesmo tempo: há muita gente, muitíssima gente, gente demais. Multidões querem tirar uma selfie com a Mona Lisa semioculta pela nuca peluda de um visitante. E, apesar de estarem de costas para a pintura, ninguém repara na enorme e extraordinária tela de Veronese na parede oposta, que exibe As Bodas de Caná.
Lembro-me de ter visitado o Louvre antes da construção da pirâmide (inaugurada em 1989), que hoje parece perfeitamente integrada entre as duas alas do palácio: havia várias portas de entrada possíveis e em todas, filas de poucos minutos; os visitantes subiam ao segundo andar da ala Denon e podiam contemplar a Mona Lisa pelo tempo que quisessem, sem dificuldades para tirar fotos (sem flash, proibido). Dava até para ler as informações numa placa de fundo marrom ao lado do quadro, onde dizia, se bem me lembro, que a obra era um retrato de Lisa Gherardini, esposa de Francesco de Giocondo, mais conhecida como La Gioconda (La Joconde, em francês) ou Mona Lisa, e que "Monna" no italiano antigo significava "senhora". Foi adquirida pelo rei Francisco I da França (protetor de Leonardo da Vinci) no início do século XVI e, desde então, é propriedade do Estado francês.
Portanto, a Gioconda não se chama assim por causa de seu sorriso, mas por ser a esposa do senhor Giocondo. E Mona Lisa não é uma "mona" de cabelo liso, embora eu suspeite que, quando diziam na Argentina que uma garota bonita era muito "mona", estava implícita a referência ao quadro e à beleza da senhora Lisa. E isso mesmo que em espanhol mona signifique macaca. Obviamente, tirei uma foto, que nunca mais encontrei. Na era das câmeras fotográficas reflex, eu tinha uma Asahi Pentax, com zoom 35-200, uma joia; a sensibilidade mais adequada para visitar museus era 27 DIN (ou 400 ASA) – havia sensibilidades mais altas, mas com grão muito grosso – e a gente tirava no máximo uma foto, não podia se dar ao luxo de gastar um rolo inteiro num quadro só. Alguns visitantes até levavam tripé para garantir que a imagem não saísse tremida.
Depois de 1989, a pirâmide tornou-se a entrada principal e, com os anos, as filas foram crescendo, e com elas as aglomerações em frente à Gioconda. Mais tarde chegaram os influencers, que alertaram os turistas: "Não faça fila na pirâmide, entre pelo subsolo, não há filas!" Não havia. Agora há filas maiores no subsolo do que na pirâmide, contornando a pirâmide invertida que esconde, segundo Dan Brown, o Santo Graal. Também graças aos influencers, há gente aglomerada não só em frente à Mona Lisa, mas também diante de A Virgem das Rochas, de São João Batista, de La Belle Ferronnière (mais bela que a Mona Lisa) ou de qualquer mancha com moldura bonita que leve a assinatura de Leonardo. Por sorte, os turistas ainda não descobriram os afrescos de Botticelli no corredor que leva aos quadros de Da Vinci. Parece que os influencers não gostam de Botticelli.
O turismo se transforma assim num problema complexo. Um problema de aglomerações, de multidões ansiosas, de coexistência nem sempre pacífica, de filas intermináveis – com ou sem reservas –, de Airbnbs caros, com taxas ainda mais caras, e residentes sem opções de aluguel. Chega-se a dar certa razão aos protestos contra turistas que ocorrem em cidades como Barcelona. Fora dos museus, as ruas não estão menos invadidas, e, nesse caso, não há reservas que aplaquem as multidões. Parece não haver solução para a presença massiva de pessoas (e de crianças!) nas ruas, parques, bares e restaurantes, especialmente nos lugares gratuitos. Já os que cobram – cafés, restaurantes, hotéis, táxis, Uber, Airbnb, museus e até algumas igrejas – se defendem e se aproveitam do excesso de ocupação cobrando preços mais altos, muito altos, às vezes exorbitantes. Mas isso obviamente irrita a população local, que paga mais caro por aluguéis e refeições. Museus e atrações muito procurados, como a Torre Eiffel, o Coliseu, a Casa de Anne Frank ou A Santa Ceia de Da Vinci (este Leonardo teimava em fazer obras-primas), exigem reservas. Em alguns casos, só se pode entrar com reserva, o que funciona de forma relativa: a reserva tem um horário de entrada, mas não de saída. Outros, como o Louvre, aceitam reservas, que garantem certa prioridade de entrada, mas permitem a formação de filas para comprar o ingresso na hora. O congestionamento é ainda maior. A reserva pode ser um paliativo, mas outro fenômeno aparece: agências de turismo (GetYourGuide, HelloTickets) compram a maioria das reservas e as revendem por cinco ou dez vezes o preço original, usando argumentos como "visita com audioguia", ou "guia de carne e osso", ou "inclui um café verdadeiramente italiano", ou "degustação do vinho original, autenticado, da Santa Ceia". Isso não aumenta, em princípio, o número de visitantes, mas sim o de "guias" que ficam perorando diante daquilo que a gente quer ver.
Problema difícil, senão insolúvel: os turistas querem visitar, os residentes querem desfrutar de sua cidade sem pagar fortunas, e restrições soam como discriminatórias ou antidemocráticas, além de antipáticas. Mas é preciso fazer algo. O excesso de visitantes destrói a beleza dos lugares e a contemplação das obras-primas.
Algumas contribuições científicas podem ser úteis. Há muitos anos (1994), físicos e matemáticos do Instituto Santa Fé, localizado na cidade homônima, capital do estado do Novo México, nos Estados Unidos, estudaram um problema semelhante, chamado "Problema do El Farol". El Farol é um bar na cidade de Santa Fé, e o problema se baseia numa anedota real relacionada a esse bar. O problema é o seguinte: às quintas-feiras à noite, todo mundo quer ir ao bar El Farol porque toca música ao vivo. No entanto, o El Farol é pequeno e não é agradável se estiver lotado. Portanto, existem as seguintes "regras" não explícitas:
- Se menos de 60% dos frequentadores habituais forem ao bar, então vale a pena ir.
- Se mais de 60% dos frequentadores habituais forem ao bar, então é melhor ficar em casa.
Mas todo mundo precisa decidir se vai ou não ao bar ao mesmo tempo e sem informação sobre quantas pessoas irão. Não é possível esperar para ver.
Existem algumas estratégias para decidir como se comportar nesse jogo. O problema é que, se todo mundo usar a mesma estratégia, ela se tornará ineficaz. Por exemplo, se a estratégia sugerir que o bar não estará lotado, então todo mundo irá, e o bar ficará superlotado. Analogamente, se o método sugerir que o bar estará cheio, então ninguém irá e, portanto, o bar não estará lotado – pelo contrário, ficará vazio.
Esse tipo de problema é conhecido genericamente como "jogo da minoria" (minority game), já que a ideia é fazer o oposto da maioria. E as estratégias determinísticas não funcionam nesse tipo de jogo. Um resultado desanimador, que se aplica não apenas ao Problema do El Farol, mas também à compra e venda de ações, ou ao problema que nos ocupa: o turismo de massas, no qual, além disso, é preciso planejar a viagem com meses e até anos de antecedência.
Aparentemente, a única solução é limitar o ingresso. Isso pode funcionar para o El Farol e para os museus, mas, para as cidades, a melhor alternativa parece ser: para os turistas, escolher datas menos procuradas, com passagens mais baratas, porém com temperaturas que podem ser pouco agradáveis. E para os residentes? Há alguma solução que não seja emigrar?
Não sei. O que sei é que a Paris de 2025 não se parece em nada com a Paris de 1925. Não, não estive em Paris em 1925, não sou tão velho. Teria adorado; Hemingway disse que era uma festa. Mas fui ao Louvre antes da pirâmide, ao El Farol tomar uma cerveja e ouvir música e ao Coliseu assistir uma luta de gladiadores, mas isso foi em outra encarnação. A velhice tem esses privilégios.