As sete Pontifícias Universidades Católicas do país (RS, MG, PR, SP, RJ, Campinas e GO) associaram-se num selo, o PUC+.
Nesta terça-feira, 11 de novembro, no foyer do Salão de Atos da PUCRS, em presença do reitor da anfitriã, Manuir Mentges, do Pró-Reitor de Pesquisa, Draiton Gonzaga, e de parceiros dessa empreitada editorial sem precedentes, foi lançado o terceiro volume do PUC+, o livro do pensador francês Edgar Morin que, aos 104 anos, tentou entrar pelo Zoom para uma saudação, mas um contratempo técnico o impediu de participar. A saudação veio pelo WhatsApp.

Participei do evento como tradutor, ao lado da pós-doutoranda em Comunicação da PUCRS Luana Chinazzo, de O Método do método: o original perdido, obra escrita em 1983, extraviada, encontrada e, enfim, publicada na França em 2024. A edição PUC+ é a primeira em português.

A publicação do livro de Edgar Morin foi abraçada pelo editor da Edipucrs, historiador Luciano Aronne, como um projeto prioritário, o que possibilitou avançar rapidamente nas diversas etapas da empreitada.

O lançamento de O Método do método contou com palestras de duas convidadas especiais, especialistas em Edgar Morin, Conceição Almeida, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e coordenadora do GRECOM (Grupo de Estudos da Complexidade), e Izabel Petraglia, diretora do Centro de Estudos e Pesquisas Edgar Morin.

Destacou-se o caráter disruptivo da obra de Edgar Morin, que defende o lugar do sujeito na produção de conhecimento, uma ciência aberta, uma racionalidade não reducionista e um paradigma da complexidade: conhecimento pela conjunção e não pela separação, compreensão da parte no todo e do todo na parte, percepção de que o humano não se limita ao racional e ao econômico e que a história não avança em linha reta do menos evoluído para o mais evoluído.
Enquanto todos buscavam certezas universais e leis da história, Edgar Morin já falava do lugar do acaso, da incerteza e do imprevisto na aventura humana e da natureza. Cedo ele compreendeu o caráter autoritário das pretensões ao definitivo e dos sistemas fechados que pretendiam explicar os fenômenos sociais e naturais de uma vez por todas. Pagou o preço de ter rompido com os ismos dominantes em cada época: a solidão do pensador que se deixa capturar por uma doutrina.
Trecho:
“Devo dizer algumas palavras sobre o método. Ele é um discurso de segunda ordem, ou seja, um discurso sobre o discurso, um conhecimento do conhecimento, uma teoria da teoria, uma ciência da ciência. É o que também se denomina “epistemologia”. Na minha perspectiva, o método sempre demandou uma epistemologia, a qual, por sua vez, só poderia ser concebida como um método. No entanto, em minha opinião, a epistemologia não poderia se colocar como um tribunal supremo do conhecimento científico; ela teria que ser relativizada, complexificada, aberta à incerteza, ao sujeito e à história, e ser sempre capaz de se repensar e de se autorrevolucionar. A epistemologia é uma forma de discurso normativo que se elabora a partir do conhecimento e da prática científica efetivos, mas esse discurso só se torna efetivo na medida em que inclui em si mesmo a autorreflexão e a autocrítica – ou seja, o próprio sujeito que empreende o conhecimento científico.”
O Método do método teve a revisão técnica de Álvaro Larangeira.