O Internacional flertou com o desastre durante toda a temporada. Depois de meses navegando entre erros administrativos, contratações equivocadas e um departamento de futebol perdido, o clube só não caiu porque venceu no Beira-Rio quando tudo parecia decidido e contou com a combinação de resultados que costuma premiar times que ainda têm alguma reserva de grandeza. Não foi planejamento, não foi gestão, não foi competência. Foi o tamanho do Inter, a mobilização da torcida e um homem que volta e meia entra na história colorada nos melhores momentos e nos mais difíceis: Abel Braga.
Abel chegou a um vestiário devastado pelo descrédito, encontrou uma torcida esgotada e um elenco que, por longos meses, parecia desconectado da camisa que vestia. Era um cenário de terra arrasada. Aceitar esse convite significava colocar seu nome perto de um rebaixamento que teria peso histórico. Ele mesmo ouviu em casa que não valia a pena. Mas Abel sempre operou em outra lógica. Conhece o clube como poucos, carregou a Libertadores inédita, comandou o time que venceu o Barcelona de Ronaldinho, já atravessou todas as curvas emocionais possíveis no Beira-Rio. E, mais uma vez, foi ele quem recolocou o Inter no trilho mínimo da dignidade.
Com sua presença simples e direta, com o respeito que inspira nos jogadores, Abel arrancou do grupo algo que parecia perdido. Não fez mágica, só deu rumo. E por isso, quando manifesta o desejo de seguir no clube em outra função, não como treinador, mas como alguém capaz de reorganizar o departamento de futebol, a resposta deveria ser óbvia. Ele tem conhecimento, vivência e autoridade. Pode contribuir muito mais do que qualquer discurso de ocasião.
Só que nada disso apaga o fracasso da gestão. O Inter não pode cair na armadilha de tratar a permanência na Série A como salvo conduto. É hora de diagnóstico sério, feito por gente de fora do circuito que tomou as decisões em 2025. O clube não pode ser avaliado por quem conduziu o processo ao colapso. Não é função do vice de futebol, não é atribuição do presidente Alessandro Barcellos, não é tarefa de dirigentes que já demonstraram limitações. Seria como deputados votando o próprio aumento. Falta distância crítica, falta capacidade técnica.
O presidente precisa assumir seu papel institucional e entregar o futebol a especialistas. A partir de Abel, o Inter deve buscar um executivo com leitura de mercado e domínio da lógica de um clube grande. Quem viveu um risco real de rebaixamento não pode repetir o improviso. A confraria de amigos precisa acabar. O Inter não pode ser administrado por um grupo com pouca experiência e conhecimento insuficiente para um ambiente tão complexo.
A temporada termina com alívio, não com orgulho. E alívio não constrói futuro. O que aconteceu em 2025 não pode se repetir. Para que não se repita, é preciso coragem para mudar.