Com a espessura de um luto,
Enquanto o sol morre de velho,
A noite espalha o seu veludo
Por campos sem evangelho.
Como pode o céu tão escuro
vir depois do vermelho em brasa?
Quem vai fazer a chuva parar
Na tarde que que ainda vaza?
O cinza não era das horas
Nem das minas que morriam
Era das nuvens que corriam
No fio da navalha dos dias.
Ampliava-se o campo da luta,
Havia perigo em cada sina,
A idade de ouro dissolvia-se,
Como as rosas da memória.
Viver era ser como colibri,
Equilibrar-se na queda,
Uma queda parada no ar,
Avanço na mata do tempo.
Quando a noite caía,
Em traços de têmpera,
A dança dos anos,
Extinguia o mormaço.
Então contavam-se histórias.
