Confira todos os textos da edição #300
- Clássicos de agora e de sempre, por Luís Augusto Fischer
- O que pensam os escritores gaúchos mais lidos do século 21, por Luís Augusto Fischer
- Sobre a elitização da leitura numa livraria de shopping e a invisibilidade das livrarias de rua, por Marlon Pires Ramos
- O fim da literatura é o fim do mundo, por Paulo Damin
- É verdade esse bilete?, por Gonçalo Ferraz
- Narrativas porto-alegrenses: Dez histórias na cidade, por Luís Augusto Fischer
- Face a face com a barbárie, por Juremir Machado da Silva
- A coisa certa a fazer – Capítulo 10: Enfim, o estrangeiro, por Stela Rates
Bocaina, São Paulo, Agosto de 2018, menos de três meses após a formação do primeiro governo de Pedro Sanchez, na Espanha, dias antes do incêndio no Museu Nacional: o garoto Gabriel Lucca, de cinco anos, não quer perder um desenho animado que estreará na quarta-feira, dia 22. Na véspera, entrega à mãe a seguinte mensagem manuscrita em um pedaço de papel pautado que trouxe da escola:
SENHORES PAES. AMANHÃ NÃO VAI TER AULA POORQUE PODE SER FERIADO ASSINADO: TIA PAULINHA
É VERDADE ESSE BILETE
A mãe do Gabriel fotografa o papel e envia para a professora Paula Robardelli, a “tia Paulinha” que teria assinado a missiva. A professora, enternecida com a inocência da falsificação, posta a foto em uma rede social. O resto é história. No mês seguinte, Gabriel e Tia Paulinha assistiam a um jogo do São Paulo em camarote vip no estádio do Morumbi, a convite do clube. Pouco depois, a mãe aparecia na televisão com as palavras do garoto tatuadas no braço. Em poucos dias, o hashtag #bilete acumulou milhares de postagens numa das redes em voga. Uma empresa global de tecnologia destacou o meme como um dos mais circulados do ano. Sete anos depois, a frase “É verdade esse bilete” ainda reverbera no imaginário popular brasileiro. Definitivamente, não há lugar para a justiça no sucesso dos memes. Nem para a ponderação. Mas não deixa de ser fascinante como a junção de certas palavras, ocasiões fortuitas e apetites coletivos transformam, quase instantaneamente, o inócuo desconhecido em elo célebre de conexão popular. Salvaguardadas as devidas diferenças entre a linguagem informal e o discurso acadêmico, é igualmente fascinante a popularidade de certos termos empregados por quem se dedica profissionalmente à construção de conhecimento.