Pular para o conteúdo

É verdade esse bilete?

Parêntese #300

📖
Uma resenha de Verdade: Uma História, de Felipe Fernández-Armesto. Rio de Janeiro: Editora Record. 285 p. Tradução de Beatriz Vieira

Bocaina, São Paulo, Agosto de 2018, menos de três meses após a formação do primeiro governo de Pedro Sanchez, na Espanha, dias antes do incêndio no Museu Nacional: o garoto Gabriel Lucca, de cinco anos, não quer perder um desenho animado que estreará na quarta-feira, dia 22. Na véspera, entrega à mãe a seguinte mensagem manuscrita em um pedaço de papel pautado que trouxe da escola:

SENHORES PAES. AMANHÃ NÃO VAI TER AULA POORQUE PODE SER FERIADO ASSINADO: TIA PAULINHA

É VERDADE ESSE BILETE

A mãe do Gabriel fotografa o papel e envia para a professora Paula Robardelli, a “tia Paulinha” que teria assinado a missiva. A professora, enternecida com a inocência da falsificação, posta a foto em uma rede social. O resto é história. No mês seguinte, Gabriel e Tia Paulinha assistiam a um jogo do São Paulo em camarote vip no estádio do Morumbi, a convite do clube. Pouco depois, a mãe aparecia na televisão com as palavras do garoto tatuadas no braço. Em poucos dias, o hashtag #bilete acumulou milhares de postagens numa das redes em voga. Uma empresa global de tecnologia destacou o meme como um dos mais circulados do ano. Sete anos depois, a frase “É verdade esse bilete” ainda reverbera no imaginário popular brasileiro. Definitivamente, não há lugar para a justiça no sucesso dos memes. Nem para a ponderação. Mas não deixa de ser fascinante como a junção de certas palavras, ocasiões fortuitas e apetites coletivos transformam, quase instantaneamente, o inócuo desconhecido em elo célebre de conexão popular. Salvaguardadas as devidas diferenças entre a linguagem informal e o discurso acadêmico, é igualmente fascinante a popularidade de certos termos empregados por quem se dedica profissionalmente à construção de conhecimento.