Pular para o conteúdo

O fim da literatura é o fim do mundo

Parêntese #300

Este é um texto sobre ambiguidade. De que fim estamos falando?

No sentido 1, o fim tem o sentido de finalidade. A expressão “fim da literatura” diz respeito à razão de ser da arte literária. 

No sentido 2, o fim tem o sentido de término. A expressão “fim da literatura” diz respeito à decadência da arte literária.

No primeiro caso, é impossível definir o fim da literatura. Como determinar a finalidade de algo que tem vários sentidos, muitas formas e diversas intenções?

No segundo caso, também é impossível definir o fim da literatura porque ela é abstrata, subjetiva. Diferentemente dos computadores ou mesmo dos papéis em que vem escrita, a arte não tem prazo de validade. 

Um elemento que une ambos os sentidos de “fim da literatura” é que essas coisas vêm sendo debatidas há milênios. Quer dizer (sentido 2) que antes da escrita do Apocalipse já se falava em apocalipse. E até hoje (sentido 1) não se sabe bem o porquê de as pessoas escreverem obras literárias como aquela.

Se em 2052 esse assunto segue sendo debatido é porque, em primeiro lugar, ele não tem um fim no sentido de término. E olha que pessoas bem mais inteligentes do que as gerações atuais se dedicaram a essas escatologias (outra ambiguidade) e não conseguiram fazer nada além de contribuir com mais literatura. 

Em segundo lugar, quer dizer que o assunto continua interessante e até ganhou um gás, nos últimos tempos. 

Taí outra expressão que merece uma conversa.