Neste Brasil velho de Deus acontece coisa que nem o diabo acredita. Parece até historinha escrita pelo GPT para concurso de absurdos. Essa que vou comentar me parece a mais patética de 2025, ano farto em asneiras.
“Ídolo” sertanejo, Zezé Di Camargo é um desses caras que cantam letras de parachoque de caminhão com voz espremida. O povo gosta, que fazer? Acostumado a ser paparicado, o sujeito resolveu cancelar o SBT por ter convidado o presidente da República para o lançamento do seu canal de notícias. Na verdade, a figura queria cancelar o presidente da República.
Entende tudo de relações públicas, de marketing e de pluralismo político o Mirosmar! É o que dá queimar etapas de formação escolar.
A ideia deve ter lhe parecido heroica. Um grito de amor por Jair Bolsonaro no momento em que o parlamento tenta tirá-lo da cadeia o mais rápido possível. Zezé deve ter imaginado que seria carregado nos ombros do povo em manifestação monstro na avenida Paulista em algum domingo.
Estrepou-se.
No auge da sua megalomania, o tal Zezé insultou as donas do SBT, filhas de Sílvio Santos, por terem recebido Lula. Macho tóxico, foi logo dizendo que elas não honravam a memória do pai e estavam se prostituindo.
A aposta na burrice tem efeito bumerangue: vai e volta. A rejeição à fala do sertanejo foi imediata. Caiu a casa. A sugestão dele de que o SBT cancelasse o seu especial de Natal foi tomada como a única coisa realmente inteligente dita por ele no seu arroubo declaratório. Foi aceita. Terá um inédito do Chaves no seu lugar. O público agradece. Melhorou muito.
A sugestão dele de que o SBT cancelasse o seu especial de Natal foi tomada como a única coisa realmente inteligente dita por ele no seu arroubo declaratório.
Em que mundo vive o maluco? Achou que podia ofender mulheres empoderadas com os termos mais rasteiros do kit do machista padrão. Não só elas reagiram com altivez e firmeza, como as redes sociais trataram de moer o autor dos insultos. Contratos de shows começaram a ser cancelados. O homem é desses que ganham milhões fáceis de organismos públicos.
Acossado pelos prejuízos no bolso, Zezé recuou com suposta humildade; jurou em nota de rede social que falou em prostituição no sentido figurado. Claro que ninguém acreditou nessa “enrolation” sertaneja. Fala sério!
A assessoria de imprensa deve ter trabalhado duro para produzir essa obra-prima de hipocrisia: “Sobre o vídeo que publiquei na madrugada de ontem, esclareço que utilizei a expressão 'prostituindo' em sentido figurado, sem qualquer intenção ofensiva ou de cunho de gênero. Apesar disso, a expressão foi mal interpretada. Em nenhum momento houve a intenção de desrespeitar as mulheres da família Abravanel ou qualquer mulher”.
A família Abravanel e as mulheres em geral sentiram-se, com toda razão, desrespeitadas. A primeira-dama Janja foi no alvo: misoginia.
No próximo rodeio, Zezé não poderá comparecer, nem mesmo se o cachê for bom: estará em casa cuidando das feridas resultantes do tombo que levou. Caiu de cima do próprio ego e foi atropelado pela multidão que passava gritando “Lula, Lula”. Não é fácil ser “ícone” nos dias atuais.