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Flávio Bolsonaro entronizado

O ex-presidente escolheu o filho senador como candidato em 2026

Flávio Bolsonaro entronizado
Deputado pelo Rio de Janeiro, Flávio deve disputar eleição para presidente | Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

Havia quem apostasse que o patriarca presidiário, Jair Bolsonaro, escolheria de sua cela especial, com base na sua imensa sabedoria eleitoral, a esposa, a evangélica Michelle, para representá-lo na disputa pela presidência da república em 2026. O capitão engaiolado resolveu apostar no filho Flávio, considerado o mais civilizado da família. Parte da direita está em choque. Não seria melhor o “dinâmico” governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas?

Pensar que Bolsonaro escolheria alguém sem o seu sobrenome significa confessar uma falta de entendimento do bolsonarismo.

Trata-se de uma ideologia de clã, familiar, dominada por um chefe que pensa, antes de tudo, nos seus interesses e no seu poder.

Jair Bolsonaro quer ser presidente por trás de alguém. Almeja manipular os cordões de uma marionete cordata e servil. Os seus filhos foram educados na disciplina familiar-militar da obediência ao mais velho, o pai, o condutor, o guia, o venerável, o comandante.

Tudo indica que Flávio Bolsonaro é uma andorinha incapaz de fazer verão por si. O pai entende, contudo, que ele acabará por atrair toda a direita por força do seu apoio. Sem ele, sem a sua liderança estridente, histriônica e popularesca, a direita encolhe até perder.

O filho entronizado enfrentará a cada debate velhas questões, aquelas que o perseguem como assombrações midiáticas: a rachadinha carioca, o reino dos chocolates, a mansão em Brasília, etc.

Desmaiar não o livrará dos apertos e de dar alguma resposta. Até hoje ele conseguiu escapar, driblar, tornar-se invisível, sumir.

Ao se tornar candidato, em nome do pai, terá de prestar contas ao futuro eleitor. Os antigos fecham os olhos para o que consideram intrigas da oposição ou pecados menores que “todo mundo comete”.

A família Bolsonaro na verdade ainda não desistiu da sua principal aposta: a anistia capaz de recolocar o patriarca no jogo.

Se isso acontecer – no Brasil nada é definitivo e o caso de Lula está aí para provar essa máxima de mínima universalização –, o eleitor seria transformado em juiz de última instância apto a decidir entre Lula e Bolsonaro depois de todos os recursos esgotados: uma acusação, um julgamento e uma prisão para cada um. Quem seria absolvido?

Flávio na cabeça facilita a troca da guarda a qualquer momento.

Todo movimento de peça no tabuleiro faz parte, no momento, de alguma estratégia sem caráter definitivo para provocar repercussão.

Qual é a plataforma de Flávio Bolsonaro? Anistia para o pai.

A direita vive um dilema: pensar em si, manter-se fiel ao homem improvável que a catapultou de volta ao poder no estilo 1964, sem dissimulações ou máscaras, ou colocar as suas fichas em um candidato com mais chances de vencer depois de várias derrotas judiciais?

Alguma chance de Tarcísio concorrer contra um Bolsonaro?

A divisão da direita encanta a esquerda. O fantasma do rebaixamento inquieta as diversas facções do bolsonarismo raiz.

É chegado o tempo de fazer escolhas que podem dar prejuízo a médio e longo prazo. Vai-se, enfim, saber se o bolsonarismo é de direita ou se a direita é bolsonarista. O que prevalece? Quem manda?

As opiniões emitidas por colunistas não expressam necessariamente a posição editorial da Matinal.
Juremir Machado da Silva

Juremir Machado da Silva

Jornalista, escritor e professor de Comunicação Social na PUCRS, publica semanalmente a Newsletter do Juremir, exclusiva para assinantes dos planos Completo e Comunidade. Contato: juremir@matinal.org

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