A Parêntese, revista semanal de cultura da Matinal, sai hoje com o portentoso número 300. Número redondo faz a gente cultivar um orgulho, meio narcisista, claro, que um número quebrado não faz. Ninguém comemora a edição 301, ou a 299.
No entanto, cada um dos movimentos que fizemos está dentro desse número bonito, 300. Cada uma das semanas em que nós aqui corremos atrás de textos e imagens e ideias que estão circulando na cidade e no mundo e que merecem figurar nas nossas – eu ia dizer páginas, e na verdade não sei como chamar. Coisa de quem já era adulto quando apareceu o computador pessoal e a internet.
Mas estamos integrados a este mundo digital, mesmo com saudade do cheiro do impresso, da ida à banca atrás da novidade, até de lamber o dedo para virar a página.
Integrados como?
Eu conto. A Parêntese tem coisas mais lentas e coisas mais rápidas. As mais lentas: a gente publica folhetins de dez capítulos – hoje, por sinal, se encerra mais um, escrito por uma mulher que teve brilhante carreira anterior como cientista, daquelas que ficam nas primeiras posições do ranking de sua especialidade, a Stela Rates. A gente também tem séries, como a que o Arthur de Faria e eu estamos escrevendo para analisar, uma a uma, as obras publicadas pelo Chico Buarque, discos e livros. Coisa para uns dois anos de publicação.
Mas tem coisas rápidas também. Morre alguém relevante, lá vamos nós em busca de quem escreva um texto em memória. Tem efeméride relevante, como o cinquentenário de publicação do grande livro que é Poema sujo, do Ferreira Gullar, e lá vamos nós em busca de quem comente o livro – neste caso, será o Abrão Slavutsky, que não apenas celebra o livro como lá, em 75, entrevistou o Ferreira Gullar ainda no exílio portenho.
Eu soube dessa experiência do Abrão passeando pelas redes. Sim, senhor. Eu vou lá, nas duas que frequento (Facebook e Instagram), fico trechando uma coisa e outra, e sempre, invariavelmente, encontro gente interessante divulgando uma ideia, propondo uma reflexão, contando uma história boa. Desses passeios sai grande parte dos convites para textos da revista.
É uma forma de conexão, permitida pelos algoritmos porém também conduzida pela diretriz maior da Parêntese: ser uma arena de conversa crítica e culta, tendo como âncora existencial a cidade de Porto Alegre, mas mantendo como horizonte o mundo todo, neste tempo que nos cabe viver.
Semana que vem, tudo de novo. E mais uma vez esperamos estar encontrando a sintonia com o prezado leitor, da prezada leitora. E agora de site novo, com mais recursos para encontrar as coisas, as da edição corrente e todas aquelas que figuram em nosso não pequeno acervo.
Um abraço,
Luís Augusto Fischer
Nesta edição
Em clima de Feira do Livro, que iniciou ontem em Porto Alegre, nosso número 300 é praticamente temático. Abrimos a edição com os resultados da pesquisa que levantou os livros clássicos gaúchos de todos os tempos, e também os considerados mais importantes do século 21. O estudo foi realizado por Joana Battisti da Silva, Luciana Neves Nunes e Luís Augusto Fischer – publicamos também depoimentos dos autores mais votados.
Marlon Pires Ramos fala do mundo literário por dois vieses, na elitização da leitura e na invisibilidade das livrarias de rua. Com gancho na problemática do Antropoceno e em um meme conhecido, Gonçalo Ferraz resenha a busca pela verdade na obra de Felipe Fernández-Armesto. Já Paulo Damin explica a ambiguidade em afirmar que o fim da literatura é o fim do mundo, e Juremir Machado da Silva escreve sobre o livro Face a face: jornalismo de opinião em tempos de bolsonarismo, lançado ontem na Feira.
Um texto de apresentação da coleção Narrativas porto-alegrenses e o último capítulo do folhetim de Stela Rates fecham a edição.
Ah, e não menos importante: nesta edição estreamos a seção de comentários, uma funcionalidade exclusiva para os nossos apoiadores. Um novo espaço que tem tudo a ver com a Parêntese: somos uma arena culta e crítica porque os textos que aqui publicamos relatam, de certa forma, manifestações artísticas, políticas e históricas da nossa cidade. E manifestações ganham densidade quando seguem adiante, depois do texto publicado.
Então boas leituras – e boa conversa!
Confira todos os textos da edição #300
- Clássicos de agora e de sempre, por Luís Augusto Fischer
- O que pensam os escritores gaúchos mais lidos do século 21, por Luís Augusto Fischer
- Sobre a elitização da leitura numa livraria de shopping e a invisibilidade das livrarias de rua, por Marlon Pires Ramos
- O fim da literatura é o fim do mundo, por Paulo Damin
- É verdade esse bilete?, por Gonçalo Ferraz
- Narrativas porto-alegrenses: Dez histórias na cidade, por Luís Augusto Fischer
- Face a face com a barbárie, por Juremir Machado da Silva
- A coisa certa a fazer – Capítulo 10: Enfim, o estrangeiro, por Stela Rates