O Flamengo sempre teve a maior torcida do Brasil. Isso não é novidade, nem discussão recente. Desde os anos 1980, os levantamentos já mostravam essa vantagem numérica clara sobre qualquer rival. O curioso é que, mesmo com essa base popular gigantesca, o clube só virou uma potência financeira de fato a partir de 2019.
Durante décadas, o tamanho da torcida não se converteu em organização, nem em dinheiro bem gerido. Houve receitas altas, é verdade, mas também desperdício, dívidas, apostas erradas e gestões marcadas mais pelo improviso do que por planejamento. O Flamengo era grande no grito e pequeno na estrutura.
A virada começa antes de 2019, mas se consolida ali. Houve mudança clara no estilo de gestão. Menos política interna, mais controle financeiro, mais respeito a orçamento, mais profissionalização. O clube passou a gastar melhor, não apenas mais. O trabalho nas categorias de base foi parte central disso. Investimento contínuo, método, captação mais qualificada e paciência com processos. Os frutos apareceram em campo e no caixa.
O sucesso esportivo veio junto. Títulos importantes, time competitivo, protagonismo continental. Nada disso surgiu apenas porque o Flamengo tem muita torcida. Torcida ajuda, empurra, consome, mas não administra. O diferencial foi gestão profissional, com decisões técnicas e visão de médio prazo.
É preciso dizer também o que não pode ser relativizado. O maior erro dessa gestão, e um erro grave, foi o tratamento dado às famílias dos jogadores mortos no incêndio do Ninho do Urubu. Ali faltou humanidade, sensibilidade e responsabilidade institucional. Esse episódio mancha qualquer avaliação e precisa ser lembrado sempre.
Ainda assim, no recorte esportivo e financeiro, o Flamengo de hoje é resultado de escolhas administrativas mais corretas. Não virou potência só porque sempre teve milhões de torcedores, virou porque passou a se comportar como um clube grande também fora do campo. A diferença está menos no tamanho da arquibancada e mais na forma de gerir o que ela sustenta.