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Abel Braga, o erro e o que fazemos com ele

Abel Braga, o erro e o que fazemos com ele

Abel Braga falou o que não deveria. Disse bobagem na entrevista de apresentação, tropeçou feio ao tentar corrigir e ainda agravou tudo ao colocar a cor rosa dentro de uma lógica moral ultrapassada. Não há como aliviar. Foi uma fala homofóbica e a justificativa posterior só mostrou que ele não foi bem orientado. A crítica é necessária e precisa ser clara.

Mas existe um ponto que não pode ser engolido pelo calor da reação. O que fazemos com alguém como Abel depois de um erro público. Cancelamos, empurramos para o canto e fingimos que está resolvido. Ou fazemos o movimento mais difícil, porém mais inteligente, que é trazê-lo para o debate do presente e colocá-lo diante da responsabilidade de aprender.

Abel não é um garoto recém-chegado ao futebol. É um profissional com quase meio século de convivência com grupos diversos, liderando elencos complexos, dialogando com jogadores de várias gerações. Não é razoável transformar esse episódio em sentença final sobre seu caráter. Ele errou, isso precisa ser afirmado sem rodeios, mas não há nada na trajetória dele que indique prática constante de preconceito.

O cancelamento é rápido, rende manchete e desabafa a indignação. Mas também impede que se produza algum avanço real. Quando retiramos alguém da conversa, perdemos a chance de mudar alguma coisa. Quando colocamos a pessoa diante do erro, aí sim existe possibilidade de transformação. No caso de Abel, é evidente que falta atualização. Falta repertório para lidar com temas que atravessam o futebol contemporâneo. O que não falta é história e vivência para compreender, se houver boa vontade, o que precisa ser corrigido.

O Inter também tem sua parcela nesse processo. Quem coloca um ídolo de outra geração para falar em nome do clube deve prepará-lo melhor. A nota oficial que orientou a desculpa não orientou nada e ajudou a piorar. O clube não pode se esconder da própria responsabilidade na construção de um ambiente que não tolere esse tipo de deslize. Não basta reagir, é preciso educar internamente.

A resposta mais adulta não é expulsar Abel do debate, mas exigir uma retratação digna. Não aquela nota fria, mas um pedido simples, direto e humano. E depois disso, convidá-lo a se aproximar das discussões que moldam o futebol de hoje. Ele tem lastro suficiente para aprender. E uma pessoa pública desse tamanho, quando aprende, produz um efeito muito maior na sociedade do que qualquer linchamento digital.

Abel Braga errou. E precisa ser cobrado. Mas não precisa ser descartado. A chance de que ele entenda o que aconteceu, e se posicione melhor daqui para frente, é mais útil para todos do que a fantasia de que eliminar alguém resolve o problema. Aqui, o importante não é livrar Abel. É não abrir mão da oportunidade de fazer o futebol crescer.

As opiniões emitidas por colunistas não expressam necessariamente a posição editorial da Matinal.
Nando Gross

Nando Gross

Jornalista e comentarista esportivo, com passagem por algumas das mais importantes emissoras de rádio do país. Contato: nandogrossjornalista@gmail.com

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