Foi lançado ontem, dia 18, um livro de imenso valor: Cicatrizes da rua (editora Libretos em parceria com a ALICE, Agência Livre para Informação, Cidadania e Educação, e apoio do Instituto Koinós e Amada Massa). A autora é Michelle Aparecida Marques dos Santos, que trabalha há 25 anos no valoroso jornal Boca de rua. Narrado diretamente em primeira pessoa, o relato conta a vida da autora, que agora, aos 42 anos, repassa sua dura experiência de vida.
Uma viagem que aos 13 anos passa da vida em família, centrada na figura de sua mãe, para a vida nas ruas, que tragou Michelle numa espiral de precariedade, drogas, abandono, luta, algumas vitórias e enfim o trabalho como jornalista no Boca, que mudou tudo e permitiu a ela ganhar voz em seu texto.
Um livro que merece leitura de todos os interessados não apenas em pessoas em situação de rua, mas em pessoas, em seres humanos em geral, neste mundo presente.
Com mediação da Clô Barcellos, a editora da Libretos, fizemos essa breve entrevista com a Michelle, por whatsapp.
Luís Augusto Fischer
LAF – De onde surgiu a ideia de produzir um relato da tua experiência? Foi fácil pensar no que ia ser narrado?
Michelle – Eu sempre tive vontade de escrever um livro, então resolvi escrever minha história de vida, não foi muito fácil voltar atrás no tempo tive que fazer uma retrospectiva da minha vida, mas como são histórias inesquecíveis não foi tão difícil
LAF – Como foi o processo de escrita? Foi em cadernos, pelo que dá pra ver no livro. Mas foram muitos cadernos?
M – Eu escrevi meu livro em um caderno grande que ganhei, de 300 páginas, claro que quando ganhei o caderno achei muito grande mas adorei o presente, foi muito inspirador pra mim saber que não faltaria linhas para minhas histórias.
LAF – E o processo da edição, como foi? Tu tiveste apoio do pessoal da Alice?
M – Tive o apoio da Alice sim nesse processo. A editora libretos só poderia publicar ano que vem, então a jornalista Rosina Duarte, com quem convivo há 25 anos no jornal Boca de Rua, falou que a Alice poderia publicar. Foi uma ótima noticia não sei bem como fizeram mas a Alice montou o livro e vai ser publicado.
LAF – Teu trabalho no Boca de Rua começou quando e como? Essa experiência foi importante para o nascimento do teu livro?
M – Meu trabalho no Boca começou no ano 2000, quando elas ainda tinham apenas a proposta pra gurizada, era tudo feito em gravador de voz . Eu já vivia nas ruas há 4 anos e foi na rua que conheci meu primeiro trabalho, o jornal Boca de Rua. O Boca foi importante para o nascimento do meu livro sim porque foi ao longo dos anos trabalhando como jornalista que eu percebi que tinha capacidade de escrever minha própria história.
LAF – Tu já tens algum comentário de pessoas que leram o livro? Como está a tua expectativa pelo que vai acontecer com o livro agora circulando? O que tu imaginas?
M – O livro foi lançado agora dia 18 de dezembro desse ano, ainda não tem comentários e perguntas. Após lerem meu livro pretendo através de dúvidas perguntas ou comentários escrever um próximo livro. Imagino também como meus filhos vão reagir ao lerem as histórias da mãe deles porque não escondi nada.
LAF – Depois desse primeiro livro, já tens ideia de outro? Te passa pela cabeça contar a história também de outras pessoas que tiveram alguma relação com a tua trajetória? O pessoal do Boca tem histórias importantes para contar?
M – Depois desse livro pretendo sim escrever outro. Adoro escrever mas escrever histórias de outras pessoas não é minha ideia, acho que isso é a escolha de cada um.
LAF – Tu tens ideia de outro tipo de livro?
M – Outro tipo de livro sim tenho vontade de escrever livros infantis mas como não sei desenhar nada fica apenas em pensamento.
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